4º Encontro
1 – O QUE É CELEBRAR?
A cultura ocidental moderna, racionalista, tem dificuldade em valorizar a mediação simbólico-ritual. O rito escapa do domínio da razão. No entanto, tal rejeição significa negação da própria identidade e experiência vital (cf. Terrin p. 9). Apesar do domínio da razão, o rito está presente nas sociedades modernas e pós-modernas como expressão do “sagrado”, ou como expressão do profano (olimpíadas…), ou ainda como expressão do cotidiano (aniversário, casamento, funeral…).
– Entre os indígenas aprender o rito é aprender a tradição dos antepassados, é aprender os mitos que explicam a origem e o sentido da vida e do mundo. A memória da resistência coletiva do povo negro em situação de escravidão no Brasil foi conservada graças à fiel observância dos rituais. O catolicismo popular expressa-se por meio de uma variedade de símbolos e ritos com seus significados.
– No judaísmo a liturgia é lugar de vivência e compreensão da fé, como o permanente lembrar da manifestação de Deus na vida e na história. “Quando teus filhos perguntarem ‘o que significa este rito’, respondereis: ‘é o sacrifício da páscoa do Senhor. Ele passou no Egito junto às casas dos israelitas, ferindo os egípcios e protegendo nossas casas’” (Êxodo 12,26-27).
– No cristianismo consideramos a liturgia ´lugar teológico primeiro’, porque a experiência cristã começa a fazer parte da vida humana, quando se expressa em símbolos. A fé cristã deve, sim, expressar-se pelo saber teológico e pela ética, mas não é suficiente. Faz-se necessário que se expresse de modo evocativo, poético, simbólico, existencial.
– O sentido da palavra liturgia (laós= povo; ergon = ofício, ação, trabalho) sugere uma ação (URGIA). Em sentido amplo podemos compreender liturgia como o serviço de Deus em Jesus e a nossa resposta: neste sentido amplo, todo gesto de amor e de compaixão é uma liturgia. Mas a palavra liturgia refere-se também aos momentos celebrativos. Liturgia é ação simbólica, ritual: De um lado é ação de Deus santificando, transformando; do outro é expressão comunitária de nossa fé, glorificando a Deus, acolhendo a salvação.
“O cristão, à semelhança dos judeus, consagrou um dia por semana à celebração de seus mistérios. A escolha recaiu sobre o primeiro dia da semana, dia da Ressurreição do Senhor, dia também que recorda a criação em Cristo, o recapitulador da história. Por isso, além de ser o Dia do Senhor, o Domingo é também o dia do homem que busca viver a liberdade” (CNBB, doc 43, n.113).
Narram os evangelhos que Jesus ressuscitado aparece aos discípulos no primeiro dia da semana judaica, o dia depois do sábado. Assim, o domingo tornou-se para nós, cristãos, o dia de fazer memória da ressurreição de Jesus. (Jo 20,1-9; Mt 28,1-10)
O domingo carrega dentro de si a mística do sábado judaico, tempo de descanso e de liberdade levado a pleno cumprimento pela ressurreição de Jesus. A dimensão sabática leva-nos a retomar a tradição de fazer do domingo um dia de descanso, consagrado ao Senhor. Não como obrigação, mas como direito. Cada domingo, com a presença do Ressuscitado e do seu Espírito, é portador de uma nova luz no meio do nosso cotidiano sobrecarregado de trabalho, de compromissos, de tensões… O domingo (como o shabbat) “é vivido como um tempo para a contemplação e a meditação”.
Desde os primeiros tempos, o encontro prazeroso dos irmãos e irmãs marca profundamente o domingo. Superando dificuldades, reúnem-se em assembleia em torno da Palavra do Ressuscitado, que, mais uma vez, nos fala ao coração e nos explica as Escrituras, como outrora aos discípulos de Emaús. Dia da reunião da comunidade, o domingo adquire, por extensão, uma dimensão de dia da solidariedade, das obras de misericórdia, da partilha dos bens com os irmãos necessitados, como anúncio eficaz da ressurreição do Senhor Jesus.
O domingo é o dia, por excelência, de dar graças, de celebrar a ressurreição de Jesus e a comunhão com ele, de fazer a memória da sua entrega, morte e ressurreição. Dele mesmo recebemos o mandato de repetir seus gestos e suas palavras. Quando chegou a sua hora, estando à mesa com seus discípulos, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o e repartiu entre eles. E recomendou: “Façam isto em memória de mim” (cf. Lc 22,14-19).
As comunidades cristãs, desde o início, obedeceram a esta ordem de Jesus, e a cada domingo davam graças e repartiram o pão para fazer memória da sua páscoa. Firmados nesta tradição, como os mártires de Bitínia, no início do século IV, presos por se reunirem aos domingos para a celebração da comunidade, proclamamos: “Não podemos viver sem celebrar o dia do Senhor!”
O ponto alto do domingo, a sua característica principal, é a reunião (assembleia) da comunidade cristã para celebrar o dia do Senhor.
Quando o Cristo Ressuscitado se manifesta, as discípulas e discípulos estão todos reunidos. Os textos bíblicos insistem sobre a importância de estarmos juntos. Assim, no evangelho de João, Tomé não acredita na ressurreição, porque não estava em comunidade reunida (Jo 20,24). Somente estando junto com os outros discípulas e discípulas é que pôde fazer a experiência do Ressuscitado (Jo 20,26).
O dia do Senhor é também o dia da comunidade, tempo privilegiado de reconciliação, partilha e caridade fraterna. A comunidade é o corpo de Cristo e a assembleia de domingo é o sacramento desta realidade fundamental: a reunião torna visível e faz crescer a união entre os membros deste corpo.
O domingo é o dia, por excelência, de dar graças, de celebrar a ressurreição de Jesus e a comunhão com ele, de fazer a memória da sua entrega, morte e ressurreição. (O que eu fiz, vós o fareis disse o Senhor…) dele mesmo recebemos o mandato de repetir seus gestos e suas palavras.
Quando chegou a sua hora, estando à mesa com seus discípulos, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o e repartiu entre eles. E recomendou: “Façam isto em memória de mim” (cf. Lc 22,14-19).
“Ó Deus, ouvimos com os nossos próprios ouvidos, nossos pais nos contaram a obra que fizestes em seus dias, nos tempos de outrora”. O versículo 2 do Salmo 44(43) nos coloca no coração da catequese judaica e indica claramente o modo como ela sempre foi compreendida: como história viva do amor de Deus que se manifesta na história de seu povo, recontada e experimentada de geração em geração. Fazer parte do povo eleito consiste, para o judeu, em viver como sua e sempre atual essa história de libertação um dia vivenciada pelos seus primeiros pais na fé e sempre reverenciada pelo povo judeu, em todas as épocas e lugares onde esteja.
A experiência da Páscoa, como fuga do Egito e processo de libertação, tem centralidade nessa tradição. A celebração ritual e anual da Pessah, a Páscoa judaica, que une indiscutivelmente as dimensões catequética e litúrgica do judaísmo, depois de ter percorrido um complexo itinerário histórico, ocupa posição privilegiada na vida do povo. Nas narrações do Primeiro Testamento, ela aparece em momentos decisivos da história dos judeus: noite da páscoa (cf. Ex 12-13), limiar da terra esperada (cf. Js 5,10-11); reforma de Josias (cf. 2Rs 23,21-23); novo êxodo guiado por Esdras (Cf. Esd 6,19-22), para citar alguns.
A celebração da Páscoa é exaltada no ápice da liturgia judaica, que a ela dedicará uma esplêndida haggadah (homilia). “E quando vossos filhos vos disserem: que significa esse rito? respondereis: ‘é o sacrifício da Páscoa, em honra do Senhor que, ferindo os egípcios, passou por cima das casas dos israelitas no Egito e preservou nossas casas’ “ (Ex 12,26-27). De fato, o rito da celebração tem um momento forte, quando a criança menor pergunta qual o sentido daquela celebração. Cabe ao mais velho fazer a catequese histórica.
O livro do Deuteronômio, especialmente no capítulo 26 (5-9), traz um recorte do fato memorável da libertação do Egito, a ser lembrado por todas as gerações: “Dirás então em presença do Senhor, teu Deus: meu pai era um arameu prestes a morrer, que desceu ao Egito com um punhado de gente para ali viverem como forasteiros, mas tornaram-se ali um povo grande, forte e numeroso. Os egípcios afligiram-nos e oprimiram-nos, impondo-nos uma penosa servidão. Clamamos então ao Senhor, o Deus de nossos pais, e ele ouviu nosso clamor, e viu nossa aflição, nossa miséria e nossa angústia. O Senhor tirou-nos do Egito com sua mão poderosa e o vigor de seu braço, operando prodígios e portentosos milagres. Conduziu-nos a esta região e deu-nos esta terra que mana leite mel”.
A celebração pascal integra, de modo dinâmico, a catequese (narração histórica) e a liturgia (celebração histórica). Passa, de modo natural, da história ao texto litúrgico, da catequese à exortação. A liturgia atualiza “dramaticamente” a evocação da histórica do passado e situa todo judeu no seu contexto de homem/mulher da aliança. “Explicarás então a teu filho: isso é em memória do que o Senhor fez por mim, quando saí do Egito” (Ex 13,8).
A consciência histórica é profunda e todo judeu aprende desde cedo que a história é o lugar privilegiado para o conhecimento e a celebração de Deus. A compreensão mais coerente de tudo o que Deus fez pelo seu povo, sobretudo o evento-êxodo, exigiu a celebração litúrgica e o judaísmo a fez sistematicamente, primeiramente em âmbito familiar (cf. Ex 12,3-4), onde o pai presidia a pequena assembleia, e, mais tarde, no templo, quando houve a centralização desta festa em Jerusalém.
A Páscoa tinha também uma dimensão social. Dela brotavam consequências éticas sérias em vista da justiça social (cf. Dt 16,5-7). Consciência da libertação no passado e empenho pela libertação das opressões presentes não se separavam. A Páscoa era celebrada com muita fartura. A partilha e a solidariedade geravam compromissos para o enfrentamento e superação das situações opressoras e das desigualdades sociais. Ela tornou-se o evento primordial para a recuperação da dignidade de vida e a reconstrução do povo judeu, tantas vezes desafiado pela história de dominação e desrespeito à sua identidade.
A palavra participação é um imperativo do Concílio. Um texto de Ione Buyst[1]:
Há vários tipos de participação na liturgia: ativa, externa, interior, consciente, plena, frutuosa.
1.3.1. Afinal, por que celebramos? Para quem celebramos?
A liturgia celebra uma aliança, um pacto.
Trata-se, portanto, de uma relação entre pessoas. De um lado estamos nós, a comunidade reunida, de outro lado está… DEUS: o Pai, Jesus Cristo, o Espírito Santo. Às vezes nós nos comportamos como robôs e… O que é pior, às vezes reduzimos DEUS a uma representação imaginária ou a uma vaga ideia de algo acima de nós, algo incompreensível, mas que procuramos colocar a nosso serviço.
São tantos os desejos que projetamos neste ‘deus’, fabricado por nós para satisfazer nossas necessidades! Criamos um ‘deus’ à nossa imagem e semelhança… Enquanto isso, o DEUS verdadeiro nos escapa, porque não prestamos atenção nele, não o ouvimos, não procuramos conhecê-lo do jeito que se revelou ao longo da história. Um passo decisivo na formação para a liturgia é:
Descobrir e encontrar-se com este DEUS, através de Jesus Cristo, no Espírito Santo! Conhecer este DEUS. Deixar-se ‘tocar’ por ele, deixar-se ‘impregnar’ por sua presença. Ouvir. Procurar compreender sua proposta, seu chamado. Aderir, entrar em comunhão de vida com ele.
Sem isso, não há liturgia de verdade; apenas simulação, um ‘fazer de conta’, um espetáculo, uma mentira…
Em cada Celebração Litúrgica este mesmo DEUS – Pai, Filho, Espírito Santo:
Liturgia não é apenas uma encenação da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré. A liturgia é a ação de Deus: não é uma ação de ordem “técnica”, ou psicológica, mas teologal; é Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – se comunicando e entrando em comunhão (Koinonia) com seu povo, fazendo-o participante de sua vida. Mas de que forma Deus se comunica na liturgia? Para nos falar, para nos tocar, para nos transformar, Deus precisa comunicar-se com a linguagem dos humanos. Deus nos atinge, nos toca, nos faz mergulhar em seu mistério, nos transforma… através da liturgia enquanto ação ritual.
Liturgia: ação celebrativa. Celebrar é exigência da vida. É sinônimo de comemorar, festejar, encontrar-se. Celebrar é pronunciar de forma simbólica um solene e público sim à vida.
Liturgia: ação ritual. O rito faz parte da vida das pessoas. Em todas as culturas, os momentos principais da vida costumam ser celebrados com ritos. Qualquer festa tem seu ritual (Buyst, 1995).
Celebrar significa tornar celebre, dar importância, festejar em massa, realizar uma ação solene, honrar, exaltar, cercar de cuidado e estima. O ser humano é naturalmente celebrativo. Reunimos para celebrar aniversários, conquistas, vitórias etc. Os povos de todos os tempos e culturas possuíam e possuem ritos festivos para celebrar momentos centrais da vida. Muitas dessas celebrações são ritos religiosos ligados ao nascimento, adolescência, casamento, enfermidade, morte etc.
2 – LITURGIA
O termo liturgia provém do grego “leitourgia” que, “em sua origem indicava a obra, a ação ou a iniciativa assumida livremente por um particular (indivíduo ou família) em favor do povo ou do bairro ou da cidade ou do Estado”. Portanto, a liturgia era a “obra pública” assumida com liberdade.
Com o passar do tempo a liturgia perdeu o seu caráter livre e passou a significar um serviço obrigatório.
A tradução grega do Antigo Testamento apresenta a liturgia como sendo um “serviço religioso prestado pelos levitas a Javé, primeiro na ‘tenda’ e depois no templo de Jerusalém”.
No Concílio Vaticano II, por liturgia compreende-se “a ação sagrada, através da qual, com um rito, na igreja e mediante a igreja, é exercida e continuada a obra sacerdotal de Cristo, isto é, a santificação dos homens e a glorificação de Deus” (SC 7). O concílio afirma também que a liturgia “é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (SC 10).
À luz do Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica, a liturgia é “obra de Cristo” e “ação da sua igreja”. É o sinal visível da comunhão entre Deus e a humanidade através de Jesus Cristo (cf. SC 6 e CIC 1071).
2.1. LITURGIA – ALIANÇA DE DEUS COM SEU POVO E DO POVO COM DEUS
Sabemos, por meio das Sagradas Escrituras que Deus cria o ser humano e não cessa de vir ao seu encontro, mesmo depois do pecado. Constitui para si um povo (Israel) e estabelece uma aliança com ele. Na aliança, Deus propõe certos deveres e, em troca promete caminhar com ele, socorrê-lo e libertá-lo.
A esse serviço religioso, ou culto público, que o povo presta a Deus, dá-se o nome de liturgia. Na celebração litúrgica, Deus se entrega como dom ao povo (movimento de cima para baixo) e o povo acolhe o dom de Deus, que é misericórdia, perdão e amor, e por isso fica feliz e cheio de gratidão. A gratidão provoca o louvor e então o povo canta as maravilhas do Senhor.
De que maneira a vida pode entrar na celebração do Dia do Senhor?
O cristão, à semelhança dos judeus, consagrou um dia por semana à celebração de seus mistérios. A escolha recaiu sobre o primeiro dia da semana, dia da Ressurreição do Senhor, dia também que recorda a criação em Cristo, o recapitulador da história. “Por isso, além de ser o Dia do Senhor, o Domingo é também o dia do homem que busca viver a liberdade” (CNBB, doc 43, n.113).
Narram os evangelhos que Jesus ressuscitado aparece aos discípulos no primeiro dia da semana judaica, o dia depois do sábado. Assim, o domingo tornou-se para nós, cristãos, o dia de fazer memória da ressurreição de Jesus. (Jo 20,1-9; Mt 28,1-10)
O domingo carrega dentro de si a mística do sábado judaico, tempo de descanso e de liberdade levado a pleno cumprimento pela ressurreição de Jesus. A dimensão sabática leva-nos a retomar a tradição de fazer do domingo um dia de descanso, consagrado ao Senhor. Não como obrigação, mas como direito. Cada domingo, com a presença do Ressuscitado e do seu Espírito, é portador de uma nova luz no meio do nosso cotidiano sobrecarregado de trabalho, de compromissos, de tensões… O domingo (como o shabbat) “é vivido como um tempo para a contemplação e a meditação”.
As comunidades cristãs, desde o início, obedeceram a esta ordem de Jesus, e a cada domingo davam graças e repartiram o pão para fazer memória da sua páscoa. (E todos repartiam o pão e não havia necessitados entre eles…). Firmados nesta tradição, como os mártires de Bitínia, no início do século IV, presos por se reunirem aos domingos para a celebração da comunidade, proclamamos: “Não podemos viver sem celebrar o Dia do Senhor! ”
2.2. COMUNICAÇÃO LITÚRGICA – AÇÃO SIMBÓLICA
Toda e qualquer experiência de comunhão com Deus, com o Ressuscitado e a vida nova no Espírito passa pela mediação dos sinais, símbolos, gestos e ações. Simbolizar é a capacidade que as pessoas têm de expressar e perceber o sentido de um gesto, de um objeto, de um sinal. É ser capaz de entrar em sintonia com o invisível por meio do gesto, do objeto visível, palpável. Tudo na liturgia refere-se a uma só e grande realidade: Jesus Cristo e o Reino de Deus. Portanto, as pessoas, coisas, gestos e ações, o tempo e o espaço são carregados do Espírito de Jesus Ressuscitado. Não só as pessoas comunicam o que trazem em seu íntimo. Tudo quanto está ao nosso redor nos passa mensagens, informações. Cada elemento que nos rodeia nos põe em relação com o que eles representam.
Assim, o espaço celebrativo (onde se desenrola a ação litúrgica), a ornamentação (objetos artísticos, pinturas, imagens, e arranjos que revelam o bom gosto da comunidade e comunicam com Deus sua mensagem), o cuidado com objetos litúrgicos, as atitudes dos membros da assembleia tudo nos fala de como é nossa fé, nossa teologia, nosso respeito em relação aos ministérios que celebramos.
As pessoas aprendem a força comunicativa das ações simbólicas quando estas apresentam os seguintes elementos:
2.3. Liturgia é ação do Corpo e do Espírito
Requer um corpo que se mexa e um espírito que se revele no gesto. Esse é expressão corporal de uma atitude interior.
Celebrar com o corpo supõe entregar-se, sem escrúpulos, à linguagem do corpo e deixar que ele guie a comunhão com Deus. Na liturgia, o gesto e o corpo são a linguagem da fé. A liturgia entendida como encontro com Deus e com os irmãos, se realiza através de ações, gestos e posturas corporais
(SC 30).
2.4. Liturgia é ação orante
Uma ação feita oração e em espírito de oração. Exige clima orante e de diálogo com o Senhor. Como diz São João Crisóstomo, em comentário sobre o salmo 140,3: “Assim como não se põe o incenso em fogo apagado, não adianta a celebração litúrgica sem uma verdadeira oração individual.
O desejo espiritual é como o fogo, a oração individual faz a pessoa se abrasar nesse fogo. Então, quando as brasas estão acesas, se põe o incenso da liturgia e se realiza a oração comunitária. O documento do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia afirma que “na liturgia Deus fala a seu povo. Cristo anuncia o evangelho. E o povo responde a Deus, ora com cânticos, ora com orações” (SC 13).
2.5. Aprendizagem pela ação ritual
Rito é o conjunto de gestos e ações simbólicas, realizadas num contexto comunitário, conforme as normas e rubricas, repetidas de tempo em tempo com a intenção de tornar presente a realidade que se quer celebrar. Para uma celebração ser de fato uma ação ritual viva e participativa, é necessário observar: o ritmo, a duração, os contrastes, a unidade, celebrar com estilo.
A missa é uma ação ritual. Desde a última ceia de Jesus até hoje, realizamo-la basicamente da mesma maneira: comemos e bebemos juntos, dando graças a Deus em nome de Jesus e no Espírito dele, fazendo memória de sua vida, morte e ressurreição.E agindo assim, estamos ligados a ele, a seu destino e a todas as pessoas do mundo, do passado, do presente e até do futuro, que têm a mesma fé nele, ou que vivem – às vezes sem conhecê-lo – no mesmo Espírito.
A própria liturgia pode ser formadora quando as pessoas “participam da própria ação litúrgica, ativa e consciente, exterior e interiormente, de forma plena e frutuosa; à medida que entram de cheio na proposta ritual”, contudo esta atitude deve partir dos ministros, pois esta ação ritual não deve ser um momento didático e moralizante, onde se tentam passar informação apenas. (Ione Buyst).
2.6. PROCLAMAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DA PALAVRA: DIÁLOGO ENTRE DEUS E SEU POVO
Assim como a Eucaristia, também a Palavra é Pão da Vida. É o próprio Cristo com sua vida, tanto na Eucaristia como na Palavra: ”Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais sede. As palavras que eu disse a vocês são espírito e vida! ”. (João 6,35.63.)
Na liturgia da Palavra, ouviremos um trecho do Primeiro Testamento ou dos Atos dos Apóstolos, no tempo pascal. Cantaremos um salmo. Ouviremos uma parte das epístolas de um dos apóstolos, aclamaremos o Evangelho, que deve ser proclamado solenemente. Depois as leituras podem ser comentadas e relacionadas, atualizadas com nossa realidade (homilia). Então, faremos a nossa profissão de fé e nossas preces comunitárias, como resposta à Palavra.
Como diz o documento Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia: “É Cristo quem fala”. É o Cristo vivo e ressuscitado que se coloca em nosso meio e tem para nós uma palavra de vida, de orientação, de consolo, de esperança E nós abrimos nosso coração e nosso ouvido para acolher a boa palavra, a boa notícia. “Deixamos que faça em nós seu trabalho criador, renovador, que cure nossas feridas, desperte nosso desejo, reanime nossas forças. De novo, ao ouvir a Palavra de Jesus, os cegos veem, os surdos ouvem, os coxos andam, os pobres se libertam e se alegram. É por isso que respondemos depois das leituras e da proclamação do evangelho: ‘Palavra do Senhor! ’ E ‘Palavra da Salvação! ’ (Ione Buyst, A Missa. Paulinas).
A liturgia da Palavra começa com a primeira leitura. Liturgicamente as leituras são sempre lidas no Ambão, ao lado direito do altar. O Ambão, sendo a Mesa da Palavra, realça a dignidade do lugar onde se anuncia a Palavra de Deus. Que não se já uma simples estante móvel. A dignidade da Palavra de Deus requer na igreja um lugar condigno de onde possa ser anunciada e para onde se volte espontaneamente a atenção dos fiéis no momento da Liturgia da Palavra. As leituras devem ser proclamadas na Bíblia ou Lecionário.
A Liturgia da Palavra não é apenas um momento de ouvir falar sobre Jesus; é o próprio Jesus que está no meio de nós e nos fala, na comunidade reunida. Sua Palavra tem a força de curar, converter, transformar as pessoas. Isso requer de nossa parte uma atitude de fé, de acolhida, de profunda escuta; requer disposição para entrar em diálogo e comunhão com Deus da Aliança. Se prepararmos o terreno de nosso coração, a semente da Palavra criará raízes em nós e dará frutos. Ouvindo, entramos em comunhão com Jesus, e através dele com o Pai. Por isso, podemos dizer que comungamos da Mesa da Palavra, assim como comungamos da Mesa da Eucaristia. Cremos na presença real de Jesus na liturgia da Palavra como cremos na sua presença real na liturgia eucarística.
1ª Leitura
É escolhida de acordo com o ano Litúrgico, e está ligada com o sentido do evangelho do dia. É tirada do Antigo Testamento onde se encontra o passado remoto da História da Salvação. Aquele passado distante, faz parte do processo amoroso de Deus, que quer caminhar conosco falando a nossa linguagem. Quantas Alianças rompidas e refeitas para chegar até a nova e eterna aliança em Jesus Cristo.
Salmo Responsorial
É bom lembrar que também o Salmo é Palavra de Deus. É uma leitura bíblica cantada, que tem o mesmo valor que as outras leituras. Responde à Palavra de Deus ouvida, com a própria Palavra de Deus. Portanto, não pode ser considerado como um canto qualquer, só para preencher um espaço. O salmo é Deus falando na resposta orante da assembleia. Sendo um canto de repouso e de meditação, a assembleia o canta assentado.
Segunda Leitura
É sempre uma leitura tirada do Novo Testamento. Não traz uma ligação temática tão clara com o evangelho como a primeira leitura. Traz, porém, uma identificação no aspecto vivencial, já que descreve a experiência pastoral das primeiras comunidades cristãs. Reveste-se de um caráter catequético e evangelizador, além de ser Palavra de Deus.
Em geral, é tirada das cartas, em geral, porque há exceções. Às vezes, a primeira leitura é de outro livro, como dos Atos dos Apóstolos; por exemplo e a segunda leitura também pode ser dos atos, do Apocalipse, ou de outro livro. Alguns chamam a segunda leitura de “Leitura dos Apóstolos”, porque seja das cartas ou dos Atos ou do apocalipse, é sempre escrita por um Apóstolo. Portanto a Liturgia da palavra é uma verdadeira “Escola Bíblica”, porque no ano nos dá uma visão da História da Salvação, recordando quase toda a Bíblia.
Canto de Aclamação
A Palavra do Senhor é luz para nossa inteligência, paz para o nosso espírito e alegria para o nosso coração. O Canto de Aclamação é uma espécie de “aplausos” para o Senhor que vai nos falar. Na Quaresma e no Advento, o canto não tem Aleluia. (Não são tempos próprios de se expressar alegria).
Evangelho
É escolhido de acordo com o Ano litúrgico (A, B ou C). Para os domingos do chamado Tempo Comum, há uma lista de três anos, acompanhando a cada ano um dos evangelistas chamados sinóticos ou semelhantes: Ano A; Mateus – Ano B; Marcos (+ João 6) – Ano C; Lucas.
2.7. Mesa da eucaristia ou altar
É a peça central da igreja, a mais importante. Mesa do sacrifício e do banquete pascal. Deve ser única, pois é sinal do Cristo. Deve ocupar um lugar para o qual a atenção de todos os fiéis naturalmente se dirija. Deve dar a sensação de estar no meio do povo, como uma verdadeira mesa de refeição, à qual todos têm acesso. Fora do horário das celebrações não precisa estar coberta com toalha, esta pode ser colocada no inicio da cerimônia. A toalha deve cair só nas laterais, para ser mais nobre e não esconder a beleza da peça. Nunca se deve usar toalha de plástico. Outras orientações praticas: não se deve encher a mesa de coisas. Até mesmo os objetos e elementos da Santa Ceia devem ficar numa mesa auxiliar, a credencia, até o começo da oração eucarística. As ofertas em dinheiro e objetos simbólicos devem ser colocados aos pés da mesa da eucaristia ou numa credencia. Também devem-se evitar cadeiras na frente da mesa que possam escondê-la, tirando a as nobreza.
Na Eucaristia, através dos sinais sagrados, a Igreja torna continuamente presente o Sacrifício da nova aliança, selada por Jesus no altar da Cruz (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. Sacrosanctum Concilium, 47). O primeiro altar cristão foi o da Cruz, e quando nos aproximamos do altar para celebrar a Missa, a nossa memória vai ao altar da Cruz, onde se realizou o primeiro sacrifício. O sacerdote, que na Missa representa Cristo, cumpre aquilo que o próprio Senhor fez e confiou aos discípulos na última Ceia: tomou o pão e o cálice, deu graças e distribuiu-os aos discípulos, dizendo: «Tomai e comei… bebei: isto é o meu Corpo… isto é o cálice do meu Sangue. Fazei isto em memória de mim!».
Obediente ao mandato de Jesus, a Igreja dispôs a Liturgia eucarística em momentos que correspondem às palavras e aos gestos realizados por Ele na vigília da sua Paixão. Assim, na preparação dos dons levam-se ao altar o pão e o vinho, ou seja, os elementos que Cristo tomou em suas mãos. Na Prece eucarística damos graças a Deus pela obra da redenção, e as ofertas tornam-se o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Seguem-se a fração do Pão e a Comunhão, mediante a qual revivemos a experiência dos Apóstolos que receberam os dons eucarísticos das mãos do próprio Cristo (cf. Ordenamento Geral do Missal Romano, 72).
Portanto, ao primeiro gesto de Jesus: «Tomou o pão e o cálice do vinho», corresponde a preparação dos dons. É a primeira parte da Liturgia eucarística. É bom que o pão e o vinho sejam apresentados ao sacerdote pelos fiéis, porque eles significam a oferta espiritual da Igreja ali congregada para a Eucaristia. É bom que precisamente os fiéis levem o pão e o vinho ao altar. Não obstante hoje «os fiéis já não levem, como outrora, o próprio pão e vinho, destinados à Liturgia, todavia o rito da apresentação destes dons conserva o seu valor e significado espiritual» (ibid., n. 73). E a este propósito, é significativo que, ao ordenar um novo presbítero, o Bispo, quando lhe entrega o pão e o vinho, diz: «Recebe as ofertas do povo santo para o sacrifício eucarístico» (Pontifical Romano — Ordenação dos bispos, dos presbíteros e dos diáconos). O povo de Deus que leva a oferta, o pão e o vinho, a grande oferta para a Missa! Portanto, nos sinais do pão e do vinho, o povo fiel põe a própria oferta nas mãos do sacerdote, que a coloca no altar, ou mesa do Senhor, «que é o centro de toda a Liturgia eucarística» (OGMR, n. 73). Ou seja, o centro da Missa é o altar, e o altar é Cristo; é necessário olhar sempre para o altar, que constitui o cerne da Missa. Por conseguinte, no «fruto da terra e do trabalho do homem» oferece-se o compromisso dos fiéis a fazer de si mesmos, obedientes à Palavra divina, um «sacrifício agradável a Deus Pai Todo-Poderoso», «pelo bem de toda a sua santa Igreja». Deste modo, «a vida dos fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua oração e o seu trabalho unem-se aos de Cristo e à sua oblação total, adquirindo assim um novo valor» (Catecismo da Igreja Católica, 1.368).
Sem dúvida, a nossa oferta é pouca coisa, mas Cristo tem necessidade deste pouco. O Senhor pede-nos pouco e dá-nos muito. Pede-nos pouco. Na vida diária, pede-nos a boa vontade; pede-nos um coração aberto; pede-nos a vontade de ser melhores, para receber Aquele que se oferece a si mesmo a nós na Eucaristia; pede-nos estas oblações simbólicas que depois se tornarão o seu Corpo e o seu Sangue. Uma imagem deste movimento oblativo de oração é representada pelo incenso que, consumido no fogo, liberta uma fumaça perfumada que se eleva: incensar as ofertas, como se faz nos dias santos, incensar a cruz, o altar, o presbítero e o povo sacerdotal manifesta visivelmente o vínculo ofertorial que une todas estas realidades ao sacrifício de Cristo (cf. OGMR, n. 75). E não vos esqueçais: há o altar, que é Cristo, mas sempre em referência ao primeiro altar, que é a Cruz; e ao altar, que é Cristo, levamos o pouco dos nossos dons, o pão e o vinho, que depois se tornarão muito: o próprio Jesus que se oferece a nós!
É tudo isto que exprime também a oração do ofertório. Nela, o sacerdote pede a Deus que aceite os dons que a Igreja lhe oferece, invocando o fruto do admirável intercâmbio entre a nossa pobreza e a sua riqueza. No pão e no vinho apresentamos-lhe a oblação da nossa vida, a fim de que seja transformada pelo Espírito Santo no sacrifício de Cristo, tornando-se com Ele uma única oferenda espiritual agradável ao Pai. Enquanto concluímos assim a preparação dos dons, dispomo-nos para a Prece eucarística (cf. ibid., n. 77).
A espiritualidade da doação de si, que este momento da Missa nos ensina, possa iluminar os nossos dias, os relacionamentos com os outros, aquilo que levamos a cabo e os sofrimentos que encontramos, ajudando-nos a construir a cidade terrena à luz do Evangelho.
3 – TEMPO LITUGICO
As celebrações litúrgicas acontecem num determinado momento do dia, da semana, do ano, ou num momento especial da vida ou da história do povo. Seguindo os ritmos cósmicos e os ritmos da vida humana, do nascer ao morrer, as celebrações atribuem significado ao tempo e conferem sentido à vida.
O tempo cronológico, medido por horas, dias, meses e anos, é algo que amedronta, pois nos faz tomar consciência de que envelhecemos e dele não temos controle. Mas como cristãos, herdeiros e herdeiras do povo judeu, aprendemos que o tempo que passa pode ser transformado em tempo de salvação (kairós), em páscoa, passagem da morte para a vida.
Na história do povo de Israel os “kairós” se identificam com as intervenções inesperadas de Deus em momentos decisivos como o êxodo, o exílio, a volta do exílio e tantos outros.
Para os cristãos, a morte e a ressurreição de Jesus foi o grande kairós, a irrupção definitiva de Deus, iniciando a plenitude do tempo. A organização do tempo faz parte da estrutura simbólico-sacramental da liturgia, feita de sinais sensíveis (SC 7). O Sinal sensível é o próprio tempo, ao qual associamos o mistério da páscoa, de tal maneira que o “ano Litúrgico goza de força sacramental e especial eficácia para alimentar a vida cristã” (Paulo VI, Carta apostólica).
Ritmo diário: manhã e tarde se destacam, segundo o movimento do sol, que nasce e se esconde, marcando o início e o fim de cada dia, o tempo do trabalho e do descanso. Ao sinal sensível do amanhecer e do entardecer associamos o mistério central da nossa fé: de tarde, lembramos a morte de Jesus, de manhã, sua ressurreição.
Ritmo semanal: destaca-se o domingo, páscoa semanal, ‘festa primordial’ (SC n. 106), dia da reunião da comunidade cristã para escutar a Palavra de Deus e celebrar a eucaristia; dia de repouso e de meditação, não como preceito, mas como direito.
Ritmo anual: aqui se destacam o ciclo do natal, o ciclo da páscoa, o tempo comum e o chamado ‘santoral’. Engloba advento, festas do natal e tempo do natal; faz memória da encarnação e manifestação do Senhor em nossa história.
Ciclo do Natal:
Proclama que o Senhor vem habitar a vida de cada pessoa e a nossa humanidade. São quatro semanas de advento, tempo de piedosa e alegre espera para assumir em nosso íntimo o grito do povo que sofre, para celebrar a vinda de Deus em todas as nossas esperas e para preparar-nos para as festas do natal.
Seguem depois as solenidades do Natal de Jesus, de Maria, Mãe de Deus, da Epifania do Senhor, da Sagrada Família e do Batismo do Senhor. Cor litúrgica branca.
Ciclo da Páscoa:
Engloba quaresma, tríduo pascal e tempo pascal para celebrar de modo mais intenso a caminhada pascal do Senhor em sua Igreja e no mundo. Começando com a quaresma, tempo de penitência e conversão, as comunidades se preparam para a grande celebração pascal, dedicando maior atenção à Palavra, à oração, e à solidariedade, sobretudo através da Campanha da Fraternidade. Esta caminhada culmina na vigília pascal, ponto alto do tríduo pascal. E a páscoa continua por 50 dias, o pentecostes, compreendido como um só dia de festa.
Cor litúrgica branca
Tempo Comum:
A mística da páscoa unifica todas as celebrações do ano. O tempo comum, sem negar o inédito das festas anuais, nos desafia a impregnar de páscoa o ano inteiro. Cada domingo tem a função de nos tirar da monotonia e reacender em nós a alegria da vida que vence a morte. O tempo comum começa no dia seguinte à festa do batismo do Senhor e vai até a terça-feira de carnaval. Interrompido pelo ciclo pascal, recomeça na segunda-feira depois de pentecostes e termina antes da véspera do primeiro domingo do advento. Cor litúrgica verde.
Tempo Litúrgico: Durante o ano, há ainda outras comemorações do Senhor, que expressam a insondável riqueza do mistério de Cristo, Filho de Deus e nosso Salvador, crucificado e glorificado.
Assim como temos também as Festas de Maria e das Testemunhas do Reino, que propõem para contemplação da comunidade as diferentes experiências que confirmam na igreja a atualidade do mistério de Cristo. Tempos e festas voltam a cada ano, não como simples repetição e sim como expressão da nossa progressiva identificação com Cristo, até atingirmos “o pleno conhecimento do Filho de Deus” (Ef 4,13).
3.1. QUAL O SIGNIFICADO DAS LETRAS A, B, C DO ANO LITÚRGICO?
A Constituição Sacrosanctum Concilium determinou: “Prepare se para os fiéis, com maior abundância, a mesa da Palavra de Deus: abram se mais largamente os tesouros da Bíblia, de modo que, dentro de um período de tempo estabelecido, sejam lidas ao povo as partes mais importantes da Sagrada Escritura”. Os peritos e responsáveis pela reforma litúrgica que se seguiu acharam por bem que esse período de tempo tivesse a duração de três anos, ou seja, que as leituras escutadas na celebração da Eucaristia dominical, voltassem a escutar-se passados três anos, e que cada ano fosse indicado com as letras A, B, C. Dessa forma, o rito romano, utilizado nas celebrações da Igreja católica possui um conjunto de leituras bíblicas que se repetem a cada três anos perpassando os domingos e as solenidades. A cada ano, a liturgia das celebrações segue uma sequência de leituras próprias, divididas em anos A, B e C.
4 – SACRAMENTOS E SACRAMENTAIS
Antes de qualquer coisa, os sacramentais são belas expressões de afeto da graça de Deus para com nós. Também são expressões devocionais da nossa fé, na confiança de que Deus age de várias formas.
Bem, neste ponto, é necessário que você já tenha entendido que Sacramentos difere de um sacramental, são elementos distintos de nossa Fé.
Enquanto os Sacramentos foram instituídos por Jesus, os sacramentais foram instituídos pela Igreja. Vejamos o que o Catecismo da Igreja Católica ensina sobre os sacramentais: “Chamamos de sacramentais os sinais sagrados instituídos pela Igreja, cujo objetivo é preparar os homens para receber o fruto dos Sacramentos e santificar as diferentes circunstâncias da vida. Entre os sacramentais, ocupam lugar as bênçãos. Compreendem ao mesmo tempo o louvor a Deus por suas obras e seus dons e a intercessão da Igreja, a fim de que os homens possam fazer uso dos dons de Deus segundo o espírito do Evangelho” (§1677 e §1678)
O QUE É UM SACRAMENTAL? A benção sacerdotal é um sacramental. Porém, existem inúmeros elementos que se identificam como este sinal. Outro exemplo de um sacramental é o sinal da Cruz que traçamos em nós.
É de extrema importância que você não considere um sacramental, como algo supersticioso ou mágico, o sacramental é algo que está na dimensão da nossa Fé.
Enquanto os Sacramentos são ministrados pela graça do próprio Cristo, o sacramental é algo que é nutrido pela nossa própria fé e devoção.
É vasto a existência dos sacramentais, mas logo abaixo, você pode observar uma breve lista do que pode ser um sacramental:
Os objetos litúrgicos reservados para as celebrações também são sacramentais. Particularmente gosto de ter objetos todos abençoados, como por exemplo o crucifixo, velas e o terço.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina sobre o sacramental da benção: “§1671. Entre os sacramentais figuram, em primeiro lugar, as bênçãos (de pessoas, da mesa, de objetos e lugares). Toda a bênção é louvor de Deus e oração para obter os seus dons. Em Cristo, os cristãos são abençoados por Deus Pai, «com toda a espécie de bênçãos espirituais» (Ef 1, 3). É por isso que a Igreja dá a bênção invocando o nome de Jesus e fazendo habitualmente o santo sinal da cruz de Cristo“.
Um sacramental também pode nos levar a lembrar do amor de Cristo por nós, a luta contra o mal e a vitória de Cristo, como é o caso do Crucifixo.
Um sacramental é um elemento da nossa Fé que permite experimentar de um modo devocional e religioso a graça das mais diversas bênçãos em nossas vidas.
4.1. Bênçãos ou sacramentais: ocupam um lugar importante não só nos livros litúrgicos, mas também na vida religiosa do nosso povo. A religiosidade popular está profundamente marcada por esta prática. Relacionando-se, por vezes, com os sacramentos, as bênçãos, oferecem verdadeiras graças espirituais. Seus ritos e formulas constituem, frequentemente, uma pedagogia de fé que não deve ser desprezada. Evidentemente, se mal orientada, a prática da bênção pode levar os fiéis a desvios provocados pela magia e pela superstição.
O concilio Vaticano II assim define os sacramentais: “Os sacramentais são sinais sagrados pelos quais, à imitação dos sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, obtidos pela impetração da igreja. Pelos sacramentais, os homens se dispõem a receber o efeito principal dos sacramentos e são santificadas as diversas circunstâncias da vida” (SC,60).
Como se percebe no texto do Concílio, os sacramentais se distinguem dos sacramentos por alguns aspectos fundamentais: Os sacramentos são sinais sensíveis e eficazes de graça instituídos por Jesus Cristo; os sacramentais são de instituição eclesiásticas. A graça dos sacramentos é essencialmente obtida por intermédio de Jesus Cristo, único mediador entre Deus e os homens, o Sumo e Eterno Sacerdote da Nova Aliança; os sacramentais estão ligados à impetração da igreja.
Em seguida, lembra que tanto os sacramentos como os sacramentais derivam do mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Cristo, do qual recebem a sua eficácia (SC 61). A celebração dos sacramentos, por extensão dos sacramentais, é vista em relação ao testemunho de uma vida santa, na abnegação e na caridade operante (LG 10). Os fiéis leigos por sua incorporação em Cristo pelo batismo e constituídos em povo de Deus, e por participarem a seu modo do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, realizam sua missão na Igreja e no mundo (LG 31; 34; GS 34; 38; 39).Na categoria de sacramentais encontra-se uma grande variedade de ritos, diferentes entre si, instituídos pela Igreja. Normalmente são relacionados em duas categorias: a) sacramentais-coisas (água, velas, cinza, ramos…) b) sacramentais-ações (profissão religiosa, bênção do abade, bênção de crianças e doentes, consagração das virgens, dedicação de igrejas…).
4.2. Os sacramentais consistem, em primeiro lugar, numa oração de impetração que a Igreja dirige a Deus, e, em segundo lugar, mediante essa oração da Igreja, numa santificação. Eles revelam a fé e o desvelo da Igreja para com os fiéis. Por meio deles a fé é preservada do excesso de espiritualismo. Santificam as realidades concretas da vida cotidiana. Outro aspecto que diferencia os sacramentos dos sacramentais está relacionado à sua eficácia, tradicionalmente expressa pelas fórmulas ex opere operato (sacramentos) e ex opere operantes ecclesiae (sacramentais).
Os sacramentais não conferem a graça em si, à maneira dos sacramentos, mas são caminhos que conduzem a ela, ajudando a santificar as diferentes circunstâncias da vida. Eles despertam nos cristãos sentimentos de amor e fé.
No sacramento, a força do sinal não depende da condição moral dos que o celebram, mas constituem uma representação objetiva e imediata do mistério pascal de Cristo. Nos sacramentais, os efeitos do mistério pascal são concedidos por Deus através da impetração da Igreja. A eficácia dos sacramentais tem efeito pleno no espiritual, com reflexo no material.
O próprio formulário de bênção que caracteriza o sacramental só nos põe em condição de fazermos invocações concretas depois de termos escutado o relato das obras maravilhosas de Deus. Partindo dessas, em profunda vitalidade teologal, a comunidade invoca a sua atuação em favor da situação em que ela ou o crente se encontram. A bênção sacramental vem de Deus e impregna com sua força todas as bênçãos pronunciadas pelo homem. No ato da celebração dos sacramentais, a bênção compreende a invocação a Deus para obter da sua misericórdia o auxílio e as graças oportunas para as pessoas que a ele se consagram ou para os objetos, a fim de que a sua ação, ou presença, seja sinal de salvação frutuosa para todos os que entram em contato com o mistério. Toda a vida cristã será transformada pela comunhão com o mistério da morte e da ressurreição do Senhor.
4.3. Os Sacramentos são “os canais por onde flui a salvação” de todos os homens, que Cristo conquistou com a sua morte e ressurreição.
Eles se relacionam intimamente com Cristo, com a Igreja e com toda a Liturgia. Há em todos eles um denominador comum, que é o sinal eficiente ou sinal que realiza o que Ele assinala.
A santíssima humanidade de Cristo é o grande sinal eficiente, transmissor da graça. Também a Igreja, como corpo de Cristo prolongado na história dos homens (cf. Cl 1, 24), e a Liturgia, com seus ritos sagrados, continuam essa função.
Cristo toca todo o cristão pelos Sacramentos não apenas de maneira psicológica ou afetiva, mas de uma forma concreta.
Os Sacramentos são esses sinais comunicadores da graça divina. Por isso, o cristão não pode ficar sem os Sacramentos. Todo Sacramento é um sinal, que não apenas “assinala”, mas que “realiza o que assinala“; assim, a água do Batismo indica a purificação da criança e a realiza.
Cada Sacramento consta de matéria (água, pão, vinho, gestos…) e forma, que são as palavras proferidas sobre a matéria, declarando o sentido da mesma. Os Sacramentos são sinais visíveis porque o ser humano é formado de corpo e alma; ele passa do visível ao invisível.
A graça santificante comunicada pelo Sacramento é a “participação na vida divina” de que falou São Pedro (1Pd 1, 4), que a pessoa pode não receber caso ponha obstáculo a ela. Por isso os frutos dos Sacramentos dependem do esforço de conversão da pessoa; das suas disposições interiores.
Os Sacramentos são “os canais por onde flui a salvação” de todos os homens, que Cristo conquistou com a sua morte e ressurreição.
4.4. Conclusão: Qual importância dos sacramentos na nossa vida?
Toda bênção é louvor de Deus e pedido para obtermos seus dons. Em Cristo, os cristãos são abençoados por Deus, o Pai “de toda a sorte de bênçãos espirituais” (Ef 1,3).
Esse trecho da Carta de São Paulo nos anima a observamos a importância dos sacramentais na nossa vida. Eles têm grande valor de santificação e consagração, pois Deus derrama sobre o homem sua bênção. O Senhor quer nos abençoar por intermédio da Igreja, quer abençoar nossa casa, nossos objetos, pois onde existe a bênção de Deus a força do mal não pode tocar.
Não se pode exagerar o valor do sacramental, como se fosse um rito mágico ou um amuleto, superstição ou fanatismo. Por outro lado, não se pode desprezar o seu valor, pois o Concílio Vaticano II reafirmou o seu valor e a sua necessidade.
O homem é o representante de Deus no mundo, e deve dominá-lo pela técnica e pelo trabalho. Os sacramentais; quando a Igreja não os dá ao povo, este corre o sério risco de buscar as superstições, amuletos, benzedeiras, etc.
AGIR:
O QUE CELEBRAMOS NA LITURGIA CRISTÃ? Vamos partir de Lucas 24,13-35:
A CEIA DE EMAÚS E A NOSSA MISSA
– Que momento é este que os discípulos de Emaús estão vivendo?
– O que é semelhante entre o encontro de Emaús e a nossa Missa? E o que é diferente?
– A Missa tem um começo (ritos iniciais) e um encerramento (ritos finais). Fora isso, a Missa tem duas partes principais: a liturgia da Palavra de Deus e a liturgia da Eucaristia. Lembram disso? E a ceia de Emaús?
– Como Jesus se faz presente em Emaús? E na missa como ele se faz presente? Temos consciência da presença de Cristo na missa?
Refrão: “Fica conosco, Senhor”. / Fica conosco, Senhor, / é tarde e a noite já vem!/ Fica conosco, Senhor, / somos teus seguidores também!
PONTOS COMUNS entre a ceia de Emaús e a nossa missa.
Em Emaús eram dois os que iam pelo caminho… “Onde dois ou mais…”(Mt 18,19-20). Entre as muitas assembleias da Igreja, a assembleia litúrgica, ocupa um lugar especial. São consideradas sacramento: manifesta e realizam o mistério da Igreja, povo sacerdotal, profético e régio, povo da aliança, Corpo de Cristo. É toda a comunidade eclesial que celebra.
No primeiro dia da semana, dia do ressuscitado, ele está presente no caminho, na Palavra, no partir o pão, na missão.
O primeiro dia ligado à ressurreição é mencionado nos quatro evangelhos (Mt 28,1 Mc 16,2 Jo 20,1 Lc 24,1 Jo 20,19 e 20,16); nos Atos (Atos 20,70. No Apocalipse ( 1,10) a expressão “Dia do Senhor” (do latim, dies Domini, em português, domingo). Para os não judeus o primeiro dia da semana era dedicado ao culto do sol. Convertidos ao cristianismo, nomeiam o domingo dia do sol identificando Jesus com o Sol da justiça. (Cf. Justino, cerca de 165 da d. C). Esta tradição de consagrar a Deus o domingo em memória da Ressurreição do Senhor torna-se parte inconfundível da identidade cristã nos séculos seguintes, obscurecida ao longo da história. A reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, resgata o domingo como páscoa semanal dos cristãos.
E hoje, como o ressuscitado se faz presente na Igreja e na liturgia? Comparar com SC 7: Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas” (na assembleia, na presidência, na Palavra, nas espécies eucarísticas).
c)O encontro dos discípulos com Cristo em Emaús foi importante para a sua fé: O que significa mesmo:
– Que os corações deles “arderam”?
– Que os olhos deles “se abriram”?
– E “dar testemunho” o que quer dizer?
A palavra mistério refere-se a uma presença escondida de Deus atuando dentro da história do universo e da humanidade. Do ponto de vista cristão, o mistério de Deus refere-se à presença de Deus manifestada em Jesus na plenitude do tempo: sua encarnação, sua missão, sua morte-ressurreição e ascensão.
O fato central da nossa fé, acontecido uma vez por todas, é atualizado na celebração, acontece para nós (sentido de memorial). Na ação litúrgica agradecemos, dizemos sim a esta oferta de amor e somos transformados pelo Espírito para vivermos de acordo com este mistério sempre renovado. À luz da páscoa de Jesus discernimos os sinais pascais da nossa realidade pessoal e coletiva…
2) Depois de olhar a realidade atual e confrontar com as tradições , nos preguntamos: O que fazer para melhorar a celebração do dia do Senhor?
Bibliografia: