Síntese de uma pesquisa em Minas Gerais e Rio de Janeiro organizada pelo Iser Assesoria
O Iser Assessoria, que há trinta e cinco anos acompanha a pastoral popular, realizou uma pesquisa sobre o Cotidiano das Comunidades Eclesiais de Base e apresenta aqui uma síntese dos resultados[1] a partir do Relatório de Pesquisa[2]. A proposta desta pesquisa surgiu em um seminário de preparação para o 10º Intereclesial. Alguns participantes diziam que era necessário “ver como as CEBs estavam de fato e não apenas como aparecem nos intereclesiais”.
As CEBs surgiram nas décadas de 60 e 70 como uma grande novidade. Elas representam uma “nova forma de ser Igreja”. Organizam-se de maneira democrática, reúnem o povo para refletir sobre a Bíblia, celebrar a vida e lutar pela transformação da sociedade. Desde o início as CEBs estão presentes junto aos movimentos sociais e têm dado uma contribuição significativa ao processo de democratização e de construção da cidadania no Brasil.
Nos anos 90, num quadro político e eclesial desfavorável, as CEBs passaram por mudanças significativas, a ponto de alguns intelectuais anunciarem o seu fim. De fato, a crise do socialismo real e, sobretudo, a implementação das políticas de cunho neoliberal e a recessão econômica tiveram importantes reflexos nas classes populares e na capacidade de mobilização de alguns movimentos sociais muito articulados com as CEBs. No campo eclesial o avanço do projeto centralizador, levado em frente pelo Vaticano, provocou uma desaceleração no projeto de participação, promovido pela Igreja Católica da América Latina. Por outro lado, mudanças no campo religioso, especialmente o crescimento do pentecostalismo e, no interior da Igreja Católica, do Movimento Carismático, também alteraram a dinâmica das CEBs. Esse novo quadro contextual deslocou o foco de atenção da mídia e da intelectualidade dando a impressão de uma crise profunda na vida das CEBs. De fato, não existem dados objetivos a nível nacional para essa afirmação. A continuidade e vitalidade dos Encontros Diocesanos, Regionais e Intereclesiais parecem indicar, pelo contrário, que as CEBs continuam atuantes. Mas é certo que vêm passando por transformações em suas formas de existir e de atuar, e foi justamente com o objetivo de compreender este processo no cotidiano das comunidades que se propôs esta pesquisa. Esta pretende contribuir para conhecer melhor como estão as CEBs, como vivem no dia-a-dia, como se organizam, o que fazem e como vêm se transformando. Foram escolhidos três temas principais: Celebração; prática social e política; e organização comunitária, levando-se em conta, ainda, as questões de gênero, etnia/cor, classe social e geração.
A pesquisa foi realizada em 2003, em dois estados, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e consistiu em um levantamento junto a 67 CEBs, sendo 31 no estado do Rio de Janeiro e 36 em Minas Gerais, selecionadas de um conjunto de comunidades indicadas pelas Comissões Diocesanas de CEBs. Todas elas responderam a um questionário. Além disso, fizemos um estudo de caso com quatro comunidades, uma rural e uma urbana em cada estado. Estas receberam a visita de um/a pesquisador/a que durante 15 dias acompanhou as atividades, entrevistou lideranças, conversou com pessoas e elaborou um relatório minucioso sobre o cotidiano de cada comunidade de base[3]. As informações e observações dos/as pesquisadores/as contribuíram muito para a análise apresentada a seguir.
Para o estudo de caso foram selecionadas as seguintes Cebs, aqui identificadas por nomes fictícios:
Comunidade São Francisco: – Comunidade rural de Sapucaia, RJ, município de 18 mil habitantes. A comunidade surgiu em 1973 e tem cerca de 80 membros. Na região predominam as pequenas propriedades rurais. A “cultura urbana” exerce uma grande influência sobre os moradores, o que tem levado muitos a emigrar para as cidades vizinhas.
Comunidade São João: – Comunidade situada em Duque de Caxias, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro que tem 775 mil habitantes. A comunidade surgiu em 1981, tem cerca de 30 membros e está situada numa favela dominada pelo tráfico de drogas e por uma política clientelista.
Comunidade Santa Rita: – Comunidade rural de Campos Gerais, MG, município com 27 mil habitantes. A comunidade surgiu em 1984, tem cerca de 185 membros. Na região predominam pequenas propriedades rurais que cultivam sobretudo café.
Comunidade Margarida Maria Alves: – Comunidade situada em Ipatinga, MG, município com 212 mil habitantes. A cidade cresceu em torno da siderúrgica Usiminas, privatizada nos anos 90. É uma comunidade de periferia, criada em 1975, e conta atualmente com cerca de 800 membros.
Segue o link do caderno: file:///D:/Users/Erica/Downloads/As%20Cebs%20Hoje.pdf
[1] Uma versão preliminar desta síntese foi apresentada à Comissão Ampliada Nacional das CEBs, e agradecemos os comentários e as sugestões dos participantes.
[2] Lesbaupin, I. et alii.O Cotidiano das CEBs: um estudo das comunidades de base de Minas Gerais e Rio de Janeiro“. Rio de Janeiro: Iser/Assessoria, 2003, 105 p. (mimeo.).
[3] A pesquisa de campo foi realizada por João Marcus Figueiredo Assis, Jorge Alexandre Oliveira Alves, Lady Christina de Almeida e Marilena Cunha.
Fonte:Portal da cebs