Todas as pessoas precisam do lúdico, da fantasia, do poético, em suas vidas. Precisamos florir o mundo, enfeitar a nossa vida, romancear a nossa história. Sem isso, ficamos sérios demais, carrancudos. Então o que fazemos? Criamos um mundo de ilusões e de fantasias só nosso, onde todas as coisas dão certo, onde somos os heróis e tudo é belo. O problema é que neste mundo não há limites, não há lei, não há a impossibilidade; podemos tudo e tudo pode ser ajeitado, moldado, corrigido. O que tentamos fazer é recusar a realidade, fugir do dia a dia, estar aqui e não ser daqui.
Imbuídos disso, nosso olhar também fica prejudicado: o casamento é um mar de rosas, sem espinhos; o trabalho é a oportunidade de viver às minhas custas; a família é um grande ninho de amor, paz e compreensão; a minha vida e tudo e todos que estão ao meu redor conspira exclusivamente a meu favor; etc. Neste sentido, não amamos as pessoas, verdadeiramente como elas são; amamos a representação dessas pessoas que nos mesmos construímos para nós.
O que não sabemos é que é exatamente no enfrentamento da realidade que está o belo, o bom e o bonito, verdadeiramente digno de nós. Fugir da realidade e construir um mundo de fantasias, como a ‘terra do nunca’ de Peter Pan, somente nos aliena, nos entorpece. Ficarmos presos à imagem que nós mesmos construímos dos outros é não enxergar aqueles que estão ao nosso redor como verdadeiramente são.
Jesus via o belo, o bonito e o santo, dentro da realidade das pessoas. Como é bonito e santo o gesto da pobre viúva que ofertou moedas quase sem valor ao templo; pois, na realidade dela, este gesto está carregado do ser da viúva. Como é feio e sem santidade a doação daqueles que deram grandes quantias, pois neste gesto não há nada deles.
No apostolado de cada cristão na comunidade é a mesma coisa. O meu apostolado (trabalho) na catequese só revelará sua beleza e sua santidade se eu me abrir e colocar um pouco de mim. Então, quando as crianças fizerem a primeira Eucaristia, sentirei e verei a verdadeira beleza, o que é bom e o que é bonito. No casamento, mesmo com os espinhos das rosas, sentirei e verei o belo, o bom e o bonito, quando lutarmos juntos para que dê certo. O trabalho revelará o belo, o bom e o bonito quando, mesmo nas adversidades, for uma construção saída do meu coração, for um pedaço de mim. A família, mesmo com suas incongruências, revelará o belo, o bom e o bonito, quando implicar todos os seus membros.
Natal é o parto de Jesus na realidade em que cada um de nós está inserido, num diálogo aberto, sincero, fiel, amoroso e cheio de temor entre nós e Deus, a exemplo de Jó. Um diálogo que ilumina a nossa vida, como Jesus iluminou a vida da samaritana, ao pé daquele poço de água.
Que você tenha um feliz natal e um próspero ano novo. Deus abençoe.
Pe. Aloísio Vieira
Pároco