Vamos conversar sobre esta passagem bíblica: “No outro dia, ao saírem de Betânia, Jesus teve fome. Avistou de longe uma figueira coberta de folhas e foi ver se encontrava nela algum fruto. Aproximou-se da árvore, mas só encontrou folhas pois não era tempo de figos. E disse à figueira: “Jamais alguém coma fruto de ti!”. E os discípulos ouviram essa maldição.” (Mc.11,12-14)

Esta passagem pode confundir as pessoas que a leem, pois Jesus amaldiçoa a figueira por não ter frutos; mas, não era tempo de figos. Será que Jesus não sabia que aquela não era época de figos? Teria Jesus cometido uma injustiça?

Há que entender o contexto para compreender o texto. Muitos de nós, que lemos e meditamos a Palavra de Deus, não buscamos saber do contexto e, por isto, temos uma compreensão errada do texto. Por exemplo, São Paulo nos diz, em sua segunda carta aos Coríntios, capítulo três, versículo seis: “Ele é que nos fez aptos para ser ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica.” Muitos entendem que São Paulo está contra a letra, as orientações escritas, os ensinamentos conforme estão escritos na Palavra de Deus ou contra as leis dos homens, mas não é assim. O contexto aqui é a fixação dos mestres e doutores da Lei de Deus na letra da Palavra de Deus e não em Deus. “Dura lex, sed lex” (a lei é dura, mas é lei). Cumprir a Lei por causa da Lei, sem entender o porquê. São Paulo ensina, aos Coríntios e a nós, que o amor a Deus e a comunhão com Ele é o que devem estar em primeiro lugar, devem ser buscados em primeiro lugar. Quem vive assim, cumpre a Lei de Deus e não vai desobedecê-la, pois saberá o porquê de obedecer. O amor a Deus e a comunhão com Ele levará, necessariamente, à obediência à Lei de Deus.

Mas, voltemos à figueira. O contexto é este: ela é da família Moraceae, primeiro os frutos começam a sair e só depois que vem as folhas. Assim sendo, o aparecimento das folhas é promessa de frutos. Tendo folhas, a figueira necessariamente teria que ter frutos.

Mas, persiste a dúvida que São Marcos aponta: ‘não era tempo de figos’. Outra vez precisamos compreender o contexto: a figueira pode produzir frutos fora da época. Não é comum, mas pode.

Vendo o texto, dentro do contexto, podemos compreender que aquela figueira estava fazendo ‘propaganda’ do que não tinha a oferecer. Vivendo de aparência. É como a pessoa que aparenta ser cristão, mas não vive a fé, não tem frutos. Diz e quer aparentar que vive segundo o Espírito; mas, na prática, vive segundo a carne. Por exemplo, é como o marido ou a esposa que diz amar o cônjuge, mas comete adultério. É como aquela pessoa que diz ser honesto e justo, mas se aproveita para levar vantagens sobre o próximo, na primeira oportunidade. É como aquela pessoa que diz que é cristão e que o cristão deve se colocar à serviço da comunidade, conforme Nosso Senhor Jesus Cristo ensina; mas que, na comunidade, só exige que os outros o sirvam e ele mesmo não serve aos irmãos.

Devemos sempre ter em mente: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mt.7,21) Nosso Senhor diz “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor…” porque aqueles que fazem a “vontade de meu Pai, que está nos céus”, também dizem Senhor, Senhor.

Pe. Aloísio