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10/01 Apelo às Consciências. Marcelo Barros
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” Convocamos todos os companheiros e companheiras para que, a partir dos bairros de nossas cidades e dos povoados do campo, possamos nos conectar e assim nos unir entre nós e à nossa Mãe Terra”.

Nesses dias em que ainda ressoam em nossos ouvidos os votos de feliz ano novo, precisamos nos colocar de acordo sobre como verdadeiramente suscitar um tempo novo para a humanidade. Foi com essa consciência que, desde dezembro, grupos da sociedade civil e pessoas responsáveis se reuniram para aprofundar algumas decisões e propostas para o nosso futuro imediato.
Por ocasião dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, diversas redes de solidariedade como a Rede Global Diálogos em Humanidade, a organização Arquipélago Cidadão dos Dias Felizes, a Rede Internacional pela Inovação Social e Ecológica, a Ágora dos/das Habitantes da Terra e a Global Social Justice, Bruxelles se reuniram e elaboraram um documento que chamaram de “Apelo às Consciências”.
Esse apelo afirma: “Nós, cidadãs e cidadãos de diversos povos da terra, temos consciência do perigo mortal que pesa sobre o futuro de nossa humanidade comum. De fato, um duplo distúrbio climático ameaça a vida no nosso planeta. O primeiro se expressa ecologicamente pelo risco de que nossa mãe Terra se converta em um “piso de vidro”, inabitável para um número cada vez maior de pessoas. Se a temperatura da terra alcançar o limite de 4º C, isso afetaria a mais de um bilhão de pessoas. Se esse limite se exceder, será ainda pior. Esse aquecimento leva ao agravamento de acontecimentos extremos, como inundações, secas, incêndios, pragas, ciclones e tempestades. No entanto, as mudanças climáticas têm outra face: o congelamento emocional e relacional expresso na ampliação das desigualdades e no desprezo pelos mais pobres. Mais grave ainda é o fato de que o medo de baixar na escala social gera uma luta mesmo entre as vítimas, trabalhadores, sem-teto e migrantes… Alguém que sente a ameaça de perder o pouco que lhe resta, teme que o outro ainda mais pobre lhe tome o lugar.
Por sua cobiça, seu cinismo e sua desigualdade, o fundamentalismo de mercado deu origem a um duplo monstro: o fundamentalismo por identidade, que pode assumir formas religiosas, nacionalistas, xenófobas e outras. Pode se expressar tanto pelas armas, como pelas urnas. A chegada ao poder de indivíduos que representam uma ameaça não somente à democracia e aos direitos humanos, começando pelos direitos das mulheres, mas também aos equilíbrios ecológicos, é uma manifestação perigosa desse fundamentalismo. Nas Filipinas, Hungria, Estados Unidos, Itália, Brasil, Colômbia, Equador e outros países, forças social e ambientalmente injustificáveis, ameaçam a humanidade no que é mais essencial: viver em paz em um planeta habitável.
Hoje, a instrumentalização de meios de comunicação e a manipulação de informações nas campanhas eleitorais podem fazer com que, como aconteceu nos anos 30 (com a ascensão de Hitler e do Nazismo), pessoas irresponsáveis e criminosas possam chegar ao poder, amparando-se em formas aparentemente legais, aproveitando o cinismo de alguns e o medo e a covardia de outros.
Diante dessa realidade, nós nos negamos a ceder ao medo e a tolerar passivamente a expansão desse perigo mortal. Vamos organizar uma resistência criativa em todas as partes, baseada na rejeição da regressão social, da irresponsabilidade ecológica e do desprezo dos direitos humanos fundamentais.
Devemos declarar ilegítimo qualquer tipo de poder que não cumpra os três pilares essenciais da convivência da humanidade em um planeta protegido: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os pactos sociais das Nações Unidas as convenções internacionais destinadas a assegurar a sustentabilidade do planeta e a luta contra as mudanças climáticas. Nós nos negaremos, através de todos os meios não violentos que estiverem ao nosso alcance, incluindo boicotes, desobediência civil contra a a autoridade ilegítima a nos deixarmos dominar ou intimidar por esses poderes. Sempre que seja possível, criaremos territórios-refúgios para as vítimas desses poderes e oásis de vida para enfrentar os desertos de morte que fabricam esses males (regressão social, irresponsabilidade ecológica e violação dos direitos humanos).
Nós nos comprometemos em nos organizar mais e melhor nessa resistência criativa, mas também em vivermos desde já os valores econômicos, ecológicos, sociais, políticos e culturais de uma sociedade do Bem-viver. Convocamos todos os companheiros e companheiras para que, a partir dos bairros de nossas cidades e dos povoados do campo, possamos nos conectar e assim nos unir entre nós e à nossa Mãe Terra”.
Que esse apelo às consciências e aos nossos grupos organizados possa ser o convite que escutamos, vindos da humanidade e em nome do Amor que as pessoas que creem chamam de Deus. Que esse apelo nos uma e nos mobilize por um mundo novo possível.

Marcelo Barros

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