Celebramos neste dia, 2 de novembro, a liturgia do Dia dos Finados, um dia que é um desafio à nossa vida de oração bem como nosso testemunho cristão. Dizemos isso, pois devido ao sentimento de perda ante aos nossos entes queridos, nem sempre vivemos a espiritualidade deste dia como homens e mulheres que aceitam o mistério da morte como os santos e a Virgem Maria.
Muitas vezes, ainda decepcionados não conseguimos ver além da nossa dor, mas o que nos consola é que também Nosso Senhor experimentou essa angústia. O evangelho nos diz que diante da morte de Lázaro Jesus “comoveu-se interiormente e ficou conturbado” e que Ele chorou. Ao ver a reação dele disseram os judeus: “Vede como ele o amava” (Cf. Jo 11, 33-36). Outra passagem que vemos essa comoção em Nosso Senhor foi no enterro da viúva de Naim: “Ao vê-la, o Senhor, encheu-se de compaixão por ela” (Cf. Lc 7, 13).
Até mesmo diante da iminência da própria morte, a Escritura nos revela que Nosso Senhor se angustiou: “Às vésperas da sua paixão e morte na cruz rezou: “Sinto uma tristeza mortal” (Cf. Mc 14, 34-36). Contudo, transcendendo Sua agonia, Jesus caminhou com dignidade rumo ao Calvário, e com sua ressurreição provou a todos que a cruz, assim como a morte e a dor não são o fim, mas o início de uma vida nova, que nos abre ao horizonte da vida eterna.
Também nós, somos chamados a ter um olhar espiritual sobre todas as coisas. Se um cristão professa que crê na ressurreição dos mortos e na vida do mundo que há de vir, espera-se que tendo sua saudade sublimada pelo desejo do céu, o dia de hoje deve ser uma oportunidade para rezarmos com especial fervor pelas almas de nossos parentes e amigos falecidos. Atestada já nas catacumbas dos primeiros séculos, a oração pelos cristãos defuntos, é constante em toda a história da Igreja.
Acerca das nossas orações pelos fiéis defuntos, já nos inspirava o Doutor da Igreja do século IV, São João Crisóstomo: “Levemos-lhe socorro e celebremos a sua memória. Se os filhos de Jó foram purificados pelos sacrifícios de seu pai (Jó 1,5), porque duvidar que as nossas oferendas em favor dos mortos lhes leva alguma consolação? Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer as nossas orações por eles”. Por isso, neste dia, a Igreja na sua sabedoria oferece a todos os fiéis a possibilidade de lucrarem, em favor das almas do Purgatório, uma indulgência plenária, juntamente com a confissão sacramental, comunhão eucarística, e oração pela intenções do Santo Padre.
Quanto à nós, que ainda estamos aqui, esse dia nos é propício para algumas reflexões sobre a brevidade da vida nesta terra. Se surpreendidos pela morte, morreremos amando o Senhor sobre todas as coisas? Como está nossa fé nas verdades reveladas sobre a vida que há de vir, somos indiferentes, ou precisamos buscar melhor conhecer a doutrina da Igreja?
Em uma das aparições a Virgem Maria disse a Bernadete Soubirous, posteriormente canonizada: “Não prometo fazer-te feliz nesse mundo, mas sim no outro”. Neste dia supliquemos a intercessão de Nossa Senhora para que vivamos com dignidade nesta terra, cientes que o que há de preparado para nós na glória de Deus é infinitamente melhor, pois “aquilo que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (I Cor 2, 9).