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12/11 Márcia de Oliveira: “O Sínodo é Oportunidade para a Igreja rever a sua metodologia, sua ação pastoral e planejar melhor sua atuação”
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“Quando o Sínodo nos propõe uma Igreja em saída, uma Igreja a caminho, os novos caminhos, passam muito por essa questão da metodologia, como podemos descolonizar uma Igreja que em muitas situações trouxe tudo muito pronto, muito formatado, para uma reprodução nas comunidades, nas bases.”

A socióloga Márcia de Oliveira é a única mulher assessora do Sínodo da Amazônia, que ela vê como “uma oportunidade que a Igreja da Amazônia tem de se dar a conhecer”, mas também para “rever a sua metodologia, sua ação pastoral e, se quiser fazer novos caminhos, de planejar melhor a sua atuação na região” .

Márcia de Oliveira nasceu em Minas Gerais, mas mora na Amzônia desde há 32 anos. Nesta entrevista, ela nos conta suas impressões sobre sua participação no processo sinodal, na elaboração do Documento Preparatório, refletindo sobre alguns elementos que devem ser importantes no futuro da Igreja da Amazônia, destacando o papel decisivo das cidades para entender boa parte daquilo que acontece na região hoje, pois a cidade acolhe muitos daqueles que são obrigados a abandonar seus locais de residência em consequência das problemáticas existentes.

O que é o Sínodo da Amazônia?

Acho que é uma oportunidade que a Igreja da Amazônia tem de se dar a conhecer um pouco mais para a Igreja, uma oportunidade que a Igreja tem de retomar um processo histórico que as vezes é difícil para nós como Igreja, de maneira especial para uma Igreja mais tradicional, hierarquizada, de reconhecer alguns erros do passado e avançar, aprender com esses erros. Também é uma oportunidade para a Igreja rever a sua metodologia, sua ação pastoral e, se quiser fazer novos caminhos, de planejar melhor a sua atuação na região. Eu vejo como um momento de graça, momento oportuno de repensar realmente a presença da Igreja na região.

 

Sendo a única mulher assessora do Sínodo da Amazônia, como se sente como mulher no ambiente vaticano, tradicionalmente dominado pelos homens?

Eu tinha um receio muito grande, principalmente com o grupo que chamava vaticanistas, me perguntando como é que esse pessoal vê a presença de uma mulher ali. De fato, eles não estão acostumados a ter uma mulher na discussão, a lidar com a presença de uma mulher. Por um lado, senti grande respeito, me chamavam doutora, tinha toda essa coisa de autoridade no assunto. Então senti certa acolhida, não pelo fato de ser mulher, mas pelo fato de ter um conhecimento daquilo que eles precisavam de informações para elaborar o documento e de pensar a Amazônia. Mas de fato, ser mulher nesse grupo não é uma coisa muito simples, não é uma coisa que eles trabalhem bem, que eles lidem de forma tranquila com isso.
Por outro lado, eu vejo que o fato de terem tido a coragem de convidar uma mulher ou de aceitar o convite a uma mulher, já também representa uma mudança importante nesse processo de discussão. Eu não me senti discriminada pelo fato de ser mulher, mas também não percebi que eles fizeram muita questão de ter uma mulher na equipe, muita questão no sentido de reconhecer a presença de uma mulher e que isso fizesse a diferença para eles. Então, aquela sutileza da especialista no assunto, mas como se fosse qualquer outro especialista no assunto Amazônia.

Também é interessante, para nós mulheres nos colocarmos nesse desafio, porque é algo que a gente evita de se expor, de ir para o conflito, para a tensão, que é a própria desses ambientes que não estamos acostumados a ter outras perspectivas, como por exemplo uma perspectiva desde as mulheres, a partir das mulheres.

Quais são as dificuldades que enfrentaram na hora de elaborar o Documento Preparatório?

Quando Mauricio López nos convidou e disse exatamente o que a secretaria esperava de nós, eu fiquei bastante apreensiva no sentido de dar conta daquilo que era o volumem de informações que a secretaria estava solicitando. E uma preocupação tremenda que eu tive, não só eu, mas acho que a equipe toda, era com relação a tempo. Era um tempo muito curto, para a gente que está acostumado a escrever artigos e essa coisa toda, era um tempo hábil. Por outro lado, exigia de nós leituras mais específicas de algumas questões.

Foi muito exigido de nós de pensar na Pan-Amazônia, não pensar apenas o Brasil ou a realidade que a gente está mais acostumada. Então desafiou muito, como é que vou falar de cidades na Amazônia lembrando de Iquitos, lembrando de Yurimaguas, lembrando de outros grandes contextos, a questão fronteiras, a questão migrações, a questão dos deslocamentos forçados de índios para a cidade, o que tem por trás disso, são elementos que por mais que sejam comuns na região, mas tem especificidades em cada país, em cada região da Pan-Amazônia.

Então isso exigiu muito, isso foi para mim um grande desafio de contribuir com uma discussão, que não podia ser localizada, que teria que conversar com todos os países da Pan-Amazônia e que acabou fragilizando um pouco o documento. Por exemplo, a gente não conseguiu pensar a Guiana Francesa, não conseguimos pensar na República da Guiana Inglesa, como é que entra nessa Amazônia, como é que a Guiana entra nessa discussão.

O Equador um pouco menos, porque Mauricio estava aí, nos dando todo um suporte, e apresentando toda uma discussão que a REPAM já vinha fazendo nessa região há mais tempo. De fato, o processo que a REPAM já vinha fazendo de documentário, de informações, de uma escrita da região, foi importantíssimo para nós pensarmos várias dimensões no documento, mas a questão do tempo foi para mim, uma das questões cruciais. Muito pouco tempo para dar conta de muitas informações, e para nós da sociologia isso é mais delicado, que é a questão da síntese, nós temos essa coisa de sempre pensar as temáticas de uma forma muito ampla.

O Documento é uma coisa muito sintetizada, coisa de reduzir a discussão a sete páginas, a cinco páginas, a quatro páginas, no máximo. Isso é como se você fosse recortando a discussão, o debate, e fica sempre aquele sentimento de faltou isso, faltou aquilo, faltou aprofundar determinada situação. Depois vai aparecer no documento, alguns bispos vão dizer que aparece muito pouco o tema urbano, não aparece o tema ecumenismo… É como se as pessoas quisessem que muita coisa entrasse num espaço que não nos permite debater todas as questões. Chegou um momento em que a gente teve que priorizar realmente quais questões que entrariam nessa primeira parte do documento, que funcionaram mais como uma provocação para grandes debates do que como síntese do que seria a realidade.

Você pensa que essas temáticas, se aparecerem nas assembleias pre-sinodais, depois vão ser recolhidas no documento sinodal ou pensa que o documento sinodal já tem um foco específico?

O Documento Preparatório dá a entender que tem algumas questões que são centrais na discussão do documento. Uma que eu tenho refletido bastante nos grupos em que tem discutido sobre o Documento Preparatório é esse vínculo com a Laudato Si, como estar quase que retomando a Laudato Si no Sínodo da Amazônia. Outra questão que me parece importante, e que precisa aparecer para além das questões é que muitas questões não têm muito a ver com a discussão que aparece ao longo do Documento.

Isso acontece com o tema comunicação, só vai aparecer em duas questões. No caso, nós emendamos em duas questões aqui na Amazônia brasileira, mas no documento original é apenas uma questão relacionada à questão da comunicação. A Vida Religiosa, também aparece apenas nas questões, não está contido no documento, na discussão, na proposta de discutir a Vida Religiosa na Pan-Amazônia, e a questão das mulheres também aparece no finalzinho do documento e depois numa das questões.

Se as discussões das assembleias territoriais ficarem muito presas, apenas às questões, a gente corre o risco de não trazer para esse segundo processo do instrumento de trabalhos, as lineamenta, elementos que são amplamente discutidos no documento. Daí que eu defendo a ideia de nós irmos para além do instrumento de escuta, para além das questões, para além das respostas. Na medida do possível criar outras possibilidades de escuta para além daquelas questões que estão apresentadas ali, e não ficar muito naquela indução de responder apenas o que está sendo posto ali, mas ampliar um pouco esses debates em torno das perguntas e respostas.

Você fala sobre o tema da mulher, que na Igreja em geral, mas especialmente na Amazônia, tem uma presença decisiva. Como colocar no documento essas questões, como o documento deveria valorizar institucionalmente, através de algum ministério, essa presença das mulheres na Igreja da Amazônia?

Tenho uma preocupação com essa questão ministerial no formato que ela vem ganhando na Igreja atual com uma carga de conservadorismo muito grande. Alguns ministérios que surgem por exemplo na liturgia, que me parece que não correspondem em nada àquilo que seria uma perspectiva amazônica, com todo respeito ao pessoal que lida com coroinhas, com a parte mais sacramental, mas que são muito fora daquilo que seria uma perspectiva amazônica. Não sei até que ponto seria importante institucionalizar ministérios na Amazônia sem levar em consideração essa perspectiva amazônica.

Um ponto central seria reconhecer o papel das mulheres nesse processo todo, romper com aquela ideia de que nós somos sentimento, nós somos semente, nós somos intuição. Nós não somos só isso, nós somos protagonismo, nós somos luta, briga, discussão, tensão, nós somos dialética nos processos da Igreja e da sociedade. Então penso que reconhecer esse papel nosso nos movimentos sociais, nas organizações, na Igreja como um todo, é um primeiro passo, reconhecer. E segundo, escutar das mulheres o que elas querem de fato, como elas se veem nesse novo processo da Igreja, e o que de fato elas sugerem.

Eu não saberia te dizer, por exemplo, se as mulheres querem ser ordenadas, que parece que essa é uma das grandes preocupações, como lidar com esse tema de ordenação de mulheres. Eu não vejo que essa seja uma grande bandeira das mulheres da Amazônia.

Talvez outros ministérios, outras intervenções, mas também eu não sei te dizer quais seriam. Talvez o Sínodo seja uma oportunidade para pensar essas possiblidades, mas eu acho que as mulheres precisam ser ouvidas, que as mulheres precisam participar dessa discussão e sentir para que rumo elas querem.

Independe de ministérios, independente de reconhecimento sacramental, as mulheres estão fazendo, levando adiante papeis muito importantes na Igreja, inclusive nas coordenações, nas articulações, na questão social, política, económica, esse papel que já desempenhamos e continuamos desempenhando independente de um reconhecimento mais ministerial. Mas se durante essas discussões se identificarem ministérios a partir de uma perspectiva amazônica que correspondam a esses desafios, eu acho que é válido estar pensando isso.

 

No Documento Preparatório, você trabalhou a parte mais relacionada com o mundo urbano. Como trazer para o mundo urbano a reflexão sinodal, e como levar a realidade urbana para as problemáticas do Sínodo?

Uma questão central na urbanização da Amazônia é essa dimensão de processos não programados, esses deslocamentos forçados, direto para a cidade, o que vai ser um sintoma de problemas no campo. Temos problemas gravíssimos no campo, temos regiões inteiras de floresta o povo sendo deslocado em detrimento de uma perspectiva naturalista, ecologista, que não leva em consideração as pessoas que estão na região. Por outro lado, a gente tem também a migração transfronteiriça, recentemente lidamos com toda a migração haitiana e agora com a migração venezuelana.

São processos dentro da Pan-Amazônia que desafiam a Igreja como um todo, e na perspectiva da urbanização e dos movimentos demográficos, nós pensamos muito essa questão das questão das cidades como resultado de processos, conflitos políticos, conflitos étnicos e culturais que vem ocorrendo na Amazônia há muito tempo. O crescimento das cidades também representa um pouco as consequências desses conflitos, as consequências por exemplo da questão agrária, da expulsão dos camponeses das suas terras, de comunidades indígenas inteiras deslocadas por grandes projetos econômicos, de projetos que têm muito envolvimento e interesses de políticos da região e que se guia pelo mercado, uma região que está sendo muito apropriada por interesses de mercado.

Nesse sentido, as cidades representam um desafio grande no sentido do que nós pensamos afinal como Igreja, o que estamos fazendo, que propostas teremos para essas novas comunidades que vão se formando a partir desses deslocamentos, como ficam essas pessoas? Conversando com os migrantes venezuelanos, praticamente 90% se declara católico, e não está inserido nas comunidades, nesse processo que os venezuelanos vem sofrendo agora. Como Igreja, que resposta nós podemos dar? Abrigar todo mundo nesses abrigos coletivos sem uma perspectiva de comunidade, sem uma perspectiva de participação, de protagonismo, não é uma resposta da Igreja. A assistência é necessária, é importante, é fundamental, mas é preciso ir além.

Aquela perspectiva do Papa Francisco do projeto de acolhimento aos migrantes e refugiados, eu acho que vale muito para nós pensarmos o Sínodo, que tem desafios muito latentes nessa atual conjuntura. Aí me parece que o crescimento das cidades, ou a centralidade de algumas cidades e os deslocamentos migratórios, são fundamentais para nós pensarmos uma Igreja sinodal com desafios muito presentes nesse contexto, e ao mesmo tempo que esses desafios dizem para a Igreja como um todo. Ou seja, desestabiliza a Igreja enquanto fixa e convida a Igreja a ir ao encontro dessas pessoas, a se desinstalar e ser Igreja junto com eles, no improviso, na precariedade da situação, naquilo que a própria condição dos processos urbanos e migratórios representam.

Tem umas discussões aí, que atualmente vem surgindo muito forte na Pan-Amazônia como um todo, que é essa questão da favelização. Eu não gosto muito desse termo de favelização, porque é como se a favela tivesse trazido esses processos de controle do tráfico, de ausência do Estado, mas por um lado faz sentido de alguns teóricos lidando com essas questões ali e comparando as cidades da Amazônia com grandes cidades, com Bogotá, com Medellín, com São Paulo, Rio de Janeiro, e assim por diante. Mas nós temos que pensar elementos que nos ajudem a pensar as cidades da Amazônia na Amazônia, com as caraterísticas da Amazônia.

Por um lado, tem esse problema gravíssimo de cidades que invadem a floresta, que avançam, que arrebentam com a floresta, por outro lado tem também essa dinâmica de esvaziamento de algumas cidades de menor porte. Vai em regiões dos extremos da Amazônia e o último censo do IBGE identificou importantes crescimentos negativos nessas regiões. Então, deslocamentos das pequenas para as grandes cidades, o que vai revelar também que na Pan-Amazônia os bens e serviços estão muito centralizados nos grandes centros urbanos.

Uma das discussões importantes nessa dinâmica toda é provocar um debate em torno disso. Por que as coisas são tão centralizadas em Belém, em Manaus, em Iquitos, sem pensar a descentralização do atendimento à questão indígena, à questão ribeirinha, aos povos que vivem nas margens das pequenas cidades também.

Como o Sínodo pode mudar uma visão um tanto estereotipada que na Europa e na Igreja europeia e vaticana tem da Amazônia como algo exótico, com indígenas dispersos e pouco mais do que isso?

A própria condição do Sínodo que é a de dar a conhecer a Amazônia já é um processo interessante de desconstrução, nessa perspectiva de desnaturalizar a Amazônia como algo voltado só como fauna e flora, sem pensar nas pessoas e a sócio diversidade que está nessa região. Outra coisa importante nessa questão de conhecer para entender, para repensar talvez a própria presença da Igreja na região, é que nós temos vários missionários, bispos, muita gente que vem de fora para aqui, para a Amazônia, que também não conhece. O Sínodo é uma oportunidade interessante para aprofundar questões que muitas vezes são muito superficiais. Tem gente que está nas cidades que nunca foi para as comunidades, que não conhece os rios e os lagos, a dinâmica que os povos estabelecem nessas regiões, o que dá margem para preconceitos muitas vezes no sentido de qual é papel social, político, econômico, dos povos indígenas que lidam com a floresta sem destruí-la, o valor dessa floresta em pé. Um valor não só local, um valor também para o planeta.

São discussões que envolvem muito fortemente a questão do bioma e essa relação dos sujeitos da Amazônia com o bioma. Para alguns a região representa ganhos econômicos no sentido da destruição da floresta, dos seus rios, a questão predatória, naquele sentido do extrativismo puro e calculista do mercado. Por outro lado, conhecer e denunciar essas questões ajudam a entender os processos que estão sendo feitos na região de resistência, de luta contra o garimpo, contra as mineradoras, contra o agronegócio, que vem chegando de forma muito indiscriminada na região, pensando em possibilidades de sobrevivência, de resistência, a partir daquilo que são os recursos da floresta, das águas, da região, e assim por diante.

Alguém que avançou muito no conhecimento, na escuta dos povos da Amazônia, foi o Padre Cláudio Perani, que está completando dez anos do seu falecimento. Até que ponto as ideias e a metodologia de Cláudio Perani poderia ajudar no processo sinodal?

Vejo o Cláudio como uma pessoa que nos ajudou a pensar a Amazônia, antepondo inclusive alguns desses desafios que são colocados pelo Sínodo. Uma questão que o Cláudio sempre dizia é que se os poderosos conseguem nos dominar é porque eles estão muito organizados entre eles e que a única forma que nós tínhamos enquanto sociedade, enquanto classes populares de enfrentar esses grandes projetos que vinham para a Amazônia, era nos articularmos, era nos fortalecermos a partir dos pequenos. Me parece que esse é um dos caminhos, uma das possibilidades que nós temos de enfrentamento a todo esse processo de destruição da Amazônia.

Esse era um ponto que o Cláudio Perani insistia muito, de trabalhar juntos, em rede, articulados, nos fortalecermos entre nós, os pequenos, as classes populares, porque é a única forma de tornarmos fortes e em condições de enfrentamento. Isso é uma questão muito pertinente na perspectiva de Cláudio Perani, e pode ser um dos caminhos para o Sínodo também. Pensar em forma de fortalecer as bases populares, de somar as comunidades com os trabalhos que vem sendo realizados. Eu destaco aqui papeis importantes das pastorais que lidam com as migrações, a Caritas, que tem um papel importantíssimo de articulação das bases, de protagonismo das comunidades, das mulheres, dos mais excluídos da sociedade. E essa foi uma perspectiva muito pertinente na visão do Padre Cláudio Perani.

A outra dimensão que destaco no pensamento dele em relação com o Sínodo é essa metodologia participativa. O Sínodo se propõe esse processo de escuta bastante participativa, bastante coletiva e o Cláudio insistiu muito em nos fazer reaprender, revisitar essas metodologias participativas, tendo como referência Paulo Freire, os teóricos que lidam com a organização marxista na organização dos trabalhadores, nas bases, mas de pensar guias metodológicos que fossem possíveis para as pequenas as pequenas comunidades. Eu acho que um dos resultados desse trabalho dele à frente do SARES (Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental), mais importante foi a elaboração de um guia metodológico popular, de forma muito simples, fluente, de conduzir o grupo a pensar sua própria realidade, e a partir dessa discussão pensar possibilidades de intervenção, de saída.

Eu acho que quando o Sínodo nos propõe uma Igreja em saída, uma Igreja a caminho, os novos caminhos, passam muito por essa questão da metodologia, como podemos descolonizar uma Igreja que em muitas situações trouxe tudo muito pronto, muito formatado, para uma reprodução nas comunidades, nas bases. Agora é uma outra perspectiva, de reaprender, de reorganizar, de fazer junto, de construir caminhos juntos. Me parece que essa questão ela é profunda, e Cláudio Perani chamava muito a atenção da Igreja para essa perspectiva, de repensar seus métodos, suas práticas, a partir daquilo que o povo também tinha a nos ensinar.

Nesse sentido, acho que a gente aprende muito com os povos indígenas, de trabalhar coletivamente, de trabalhar esse saber, aprender a distribuir o pouco que se tem, tornar muito aquilo que parece pouco. E recolher das pessoas a sua capacidade de se doar, de se comprometer sem aquela imposição de coisas prontas, mas fazer juntos, de planejar juntos. As vezes isso é cansativo, mas o resultado disso é fantástico, quando as pessoas se sentem no processo, quando elas percebem que elas estão fazendo por elas mesmas, não tem o que pague isso, não tem como ignorar isso.

Luis Miguel Modino

Fonte: cebs do Brasil