A Missa de Lava-Pés, celebrada pelos cristãos católicos do mundo inteiro, na Quinta-feira Santa é marcada pela realidade simbólica do colocar-se a serviço, com humildade e amor. Pois esse dia santo é o ponto de partida do coração da Semana Santa, ou seja, ela marca o início do Tríduo Pascal, que termina no Domingo de Páscoa.
Na Quinta-feira Santa, os cristãos católicos fazem memória da Santa Ceia, quando Jesus lavou os pés dos 12 discípulos, em sinal de humildade, e instituiu a Eucaristia – o corpo e o sangue de Cristo. A missa do Lava-pés como abertura do Tríduo Pascal, ao mesmo tempo que insere os cristãos no núcleo dos mistérios da fé, traz um resumo da lição de amor-serviço ensinada pelo Mestre Jesus de Nazaré. Os elementos bíblicos e litúrgicos levam o cristão a percorrer o caminho que parte da caridade serviçal e chega à plenitude da Ressurreição (Páscoa), passando antes pela entrega total na cruz (morte).
Este texto, motivado pela mística e objetivo da Quinta-feira Santa (Lava-pés), pretende promover uma reflexão sobre as duas bacias: a de Jesus e a de Pilatos, presentes na ação pastoral dos cristãos inseridos ou ausentes da vida eclesial.
Os objetos têm valor em si, mas também seu valor torna-se diferente, a partir do significado que lhes damos. Assim, uma bacia tem sentido em si mesma, mas adquire significados diferenciados nas mãos de Pilatos e de Jesus. A bacia de Pilatos serve para a autojustificação. Seu valor é voltado para o egoísmo. Pega um significado de acusação contra o povo presente. Ele quis dizer que considerou Jesus livre de culpa, mas o condena porque os representantes do povo o exigem. “Sou inocente do sangue desse homem” (Mt 27, 24). A bacia de Jesus é sublime, porque é altruísta. O Mestre pensa no bem dos discípulos, não em si. Ao lavar-lhes os pés, quis mostrar que devemos ser serviçais uns para com os outros, aliviando as imperfeições que cada um carrega. Ao fazer ablução (lavar as mãos) na bacia, o governador romano olha para si, querendo purificar-se a si diante da multidão. Jesus olha para os outros. Quer tirar as poeiras e as imperfeições dos outros, e ainda enxuga os pés com uma toalha. Quer vê-los em pureza completa. A bacia de Jesus serviu para um ensinamento profundo, que beneficia todos os séculos.
As duas bacias servem de exemplo para os seres humanos, independente do credo religioso e, principalmente, para nós agentes de pastoral que temos um serviço na Igreja. A partir disto devemos nos questionar: com qual bacia estamos servindo na comunidade em que participamos? Com a bacia de Pilatos que é da omissão, do poder, do interesse, da ambição e da falsidade; ou servimos a comunidade com a bacia de Jesus, que é da humildade, da caridade, da misericórdia, do perdão e da fraternidade.
Para sabermos com qual das duas bacias servirmos à Igreja, temos que observar o nosso comportamento em relação ao irmão de caminhada eclesial (Igreja), pois se julgamos, perseguimos, competimos, somos fingidos, não perdoamos, somos invejosos, e se ainda tratamos as pessoas com falsidade para obtermos alguma vantagem pessoal, podemos concluir que estamos usando a bacia de Pilatos. Mas se temos um comportamento antagônico a tudo isso, procurando uma aproximação verdadeira de nossos irmãos, podemos concluir que estamos utilizando a bacia de
Jesus que é a da igualdade, da caridade, da misericórdia, do perdão e da autenticidade. E como cristãos, supostamente discípulos de Jesus Cristo, devemos sempre utilizar a “bacia do Lava-pés” na nossa vida de serviço na Igreja e na sociedade como um todo.
Pe. José Cristiano Bento dos Santos
Fonte: CEBs do Brasil