O relacionamento humano é multifacetado; isto é, cada pessoa precisa lidar com outra pessoa ou outras pessoas, de forma contextual. Ainda mais, isto varia de pessoa para pessoa, com a qual temos que nos relacionar, dentro do mesmo contexto. Por exemplo, dentro da família, que é um contexto, relacio-nalmente o homem precisa lidar com a esposa e vice-versa, com cada filho, com pai, com mãe, com tio, com tia, com primo, com sogra, com sogro etc. Dentro da empresa, que é outro contexto, a pessoa precisa lidar com a chefia, com o grupo de colegas de trabalho, com cada um deles etc.
Marcelo Perine que é doutor (1986) em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Ro-ma, professor Associado da PUC/SP, publicou 80 artigos em periódicos especializados, 39 capítulos de livros, 20 trabalhos completos em anais de eventos, 9 livros autorais e organizou 5 livros, orientou 7 TCCs de Graduação, 4 trabalhos de IC, 37 dissertações de mestrado, 20 teses de doutorado e 4 supervisões de pós-doutorado na área de Filosofia, é membro do Conselho Científico do Institut Eric Weil da Université de Lille (França). Segundo ele, Eric Weil introduz a violência no discurso, uma vez que não trazemos só a racionalidade para o debate de ideias, mas também o coração e a vontade. Eric Weil visa, com isto, promover uma abordagem do homem integralmente. O ser humano não é só razão, mas também emoção e elas interagem.
Dentro do nosso assunto, neste artigo, aqui podemos dizer que nossos relacionamentos nos obri-gam a assumir posturas, muitas das quais não queremos, não desejamos. Fazemos coisas que não queremos fazer, assumimos atitudes que não queremos assumir.
Por outro lado, não somos estanques, somos integrais. A pessoa não é uma no contexto do trabalho e outra no contexto da família e uma terceira no contexto da Igreja etc. Uma vez pressionado em casa, a pessoa levará os reflexos disto para os outros contextos de sua vida. Uma vez enfrentando um problema no trabalho, levará os reflexos disto para a família, para a Igreja etc. Em outras palavras, quando nos rela-cionamos com alguém, devemos levar em conta as multifaces da pessoa. Quando os filhos se relacionam com o pai, devem levar em conta que o pai não é só pai, mas também tem esta profissão e nela tem todas as implicações específicas. Um exemplo: quando o marido chega em casa e quer levar a esposa para uma festa ou para o cinema etc. e ela não quer, pois está cansada, ele deve pensar que ela não é só esposa, mas é dona de casa, é mãe, e talvez trabalha fora etc. Quando o marido chega em casa nervoso, a esposa deve levar em consideração que ele não é só marido, mas também trabalha e faz parte desta ou daquela atividade pastoral na Igreja. Alguém deve ter enchido a paciência dele ou ele está enfrentando algum problema.
Quando a pessoa enfrenta um problema, em algum contexto de sua vida, para o qual não encontra solução, a angústia se reflete em todos os relacionamentos dela. E as pessoas dos outros relacionamentos ficam sem entender o que está acontecendo e não aceitam sofrer as consequências e, aí, desanda o relacionamento. Pior ainda, a pessoa que enfrentava um problema sem solução, num contexto de sua vida, acaba por ter outros problemas nos outros contextos de sua vida. Vira uma bola de neve que se agrava cada vez mais. A pessoa tem um problema no trabalho e, por causa disto, arranja um problema em casa, e por causa do problema no trabalho e do problema em casa, arranja um problema na Igreja etc. É quase como passar um ‘corredor polonês’, recebe pancada de todos; mas, diferente do ‘corredor polonês’, recebe todas as pancadas ao mesmo tempo. A pessoa pode entrar numa tristeza, depois numa tristeza profunda, depois num baixo astral, depois numa depressão, depois numa depressão profunda…
Quando a pessoa chega no estágio da tristeza profunda, a sua autoestima já está lá embaixo. Então, é no estágio anterior, a da tristeza, que a sua confiança em Deus pode segurá-la para que não avance nesta espiral de queda. “É esse o motivo por que estou sofrendo assim. Mas não me queixo, não. Sei em quem pus minha confiança, e estou certo de que é assaz poderoso para guardar meu depósito até aquele dia.” (2Tim.1,12)
Desta maneira, devemos sempre levar em consideração que a pessoa não é só aquilo que representa para nós, que ela é multifacetada em suas relações humanas. O marido não é só marido, a esposa não é só esposa, o tio não é só tio, o engenheiro não é só engenheiro, o médico não é só médico, o pedreiro não é só pedreiro, o vicentino não é só vicentino, o agente da Pastoral Litúrgica não é só agente da Pastoral Litúrgica, o catequista não é só catequista etc.
Deus abençoe.
Pe. Aloísio Vieira