Outro dia, José estava conversando com o João sobre o compromisso vocacional do cristão. José defendia a tese de que o compromisso vocacional do cristão era com os irmãos, o que levaria necessariamente ao compromisso com Deus. Já o João defendia a tese de que o compromisso do cristão era com Deus, o que levaria necessariamente ao compromisso com os irmãos.
José dizia que a tese do João corria o risco de levar a uma fé intimista, alienada, descompromissada, que levaria fatalmente ao individualismo, onde o cristão poderia ser levado a pensar que a salvação é individual, do tipo ‘cada um por si e Deus por todos’.
João alegava que a tese do José também corria risco. O risco de levar a uma fé meramente social, sem transcendência, onde o cristão colocaria a sua meta numa sociedade perfeitamente justa e solidária, dispensando a salvação eterna. A pessoa seria puramente imanente, ou seja, ela é o seu próprio início e fim. Algumas sociedades, principalmente europeias, chegaram ao ateísmo ou ao panteísmo por este caminho. Alienaram-se de Deus, conformando-se com o bem-estar social e material. O passo seguinte seria alijar a sociedade das leis divinas, criando as próprias. Uma vez que Deus é dispensável, as suas leis também o seriam. Uma porta aberta para o aborto, a eutanásia, a pena de morte, o descarte de quem socialmente não é relevante ou é um peso social, a destruição da família (chamando pet de filho/a, casando-se com pet etc.). Possivelmente, dependendo da sociedade, normalizando a poligamia, a terceirização da educação dos filhos, a terceirização da gestação, a pedofilia, a zoofilia etc.
Desconsiderando os riscos, pois o risco está no campo das possibilidades e não das certezas, José e João passaram a elencar seus argumentos a favor, cada um de sua tese. Embora os riscos da tese de João e de José, mencionadas acima, já sejam realidades em algumas partes do mundo, deixando o campo das possibilidades e chegando ao campo da realidade.
José, então, argumentou que o compromisso vocacional do cristão com Deus não levaria necessariamente ao compromisso com os irmãos. Poderia levar a considerar o próximo como irmão, mas não a se comprometer com ele. Disse que devemos considerar a questão da proximidade, ou seja, há irmãos que são próximos e irmãos que são distantes uns dos outros. A questão da proximidade tem a ver com a reciprocidade. Não mantemos proximidade de quem não retribui ou não pode retribuir. A pessoa passa a acha que está sendo sugada, explorada, não se sente recompensada. É o que acontece com muitas pessoas, ou seja, sabem que o próximo é seu irmão, mas não se compromete.
João, por sua vez, disse que o compromisso com os irmãos não é garantia de que haverá compromisso com Deus. O compromisso com Deus é que motiva e baliza o compromisso com os irmãos. Se Deus não é a fonte balizadora, a fonte motivadora, outra coisa o será. Muitas pessoas são comprometidas com os irmãos por causa de ideologia e não por causa de Deus. Daí que sua relação com os irmãos será ditada por esta ideologia. A pessoa irá obrigar os irmãos a aceitarem os ditames desta ideologia, transformando-se muna ditadura.
Sem chegar a um acordo, José e João resolveram perguntar ao Mestre Jesus. Abriram a Bíblia e foram ler o que Jesus diz e encontraram em Mt.22,36-40): ‘“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”. Respondeu Jesus: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu o coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito (que está em Dt.6,5). Esse é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (que está em Lv.19,18). Nesses dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas”.’ Então José e João chegaram à conclusão de que estes dois mandamentos são complementares, isto é, validam e sustentam um ao outro. Não é possível amar verdadeiramente a Deus se não amar o próximo e não é possível amar verdadeiramente ao próximo se não amar a Deus.
Procure crescer na fé, amadurecer em sua caminhada de fé. Adquirir razões para ser uma pessoa de fé. Responda a pergunta: Porque sou católico?
Pe. Aloísio Vieira