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Palavra do Padre
ALOISIO VIEIRA

MÊS DE janeiro de 2022
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Ano Novo

Uma das coisas mais difíceis na vida é amar sem se considerar dono. Até das coisas de Deus e até do próprio Deus, queremos nos adonar. Toma posse desta benção, toma posse da graça, toma posse da Palavra, toma posse disto, daquilo etc. “Tudo que eu quiser o cara lá de cima vai me dar”.

Quando nos adonarmos de alguma coisa ou de alguma pessoa, queremos subjugar, queremos forçar a realizar nossos desejos, viver ou existir segundo a nossa cartilha, adotar nossa visão de mundo etc.

Amar não é sinônimo de posse, é sinônimo de servir; ser feliz e realizado colocando-se a serviço da pessoa amada; ser feliz e realizado assistindo a felicidade e a realização da pessoa a quem serve, por amor.

Amar a ponto de gastar-se, gastar os dons, gastar os talentos, gastar as habilidades; fazer gostando de fazer, realizando-se nisto, implicando-se; sem, contudo, ser dono, é o que o Senhor Deus nos pede; pois Ele mesmo faz isto por nós. O Pai nos amou tanto que entregou seu próprio filho unigênito à morte para nos salvar. O próprio Jesus Cristo disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.” (Jo.15,13)

Deus não nos quer escravos, mas livres; não quer forçar que O aceitemos, quer que O aceitemos livremente; de todo o coração. Aí está o valor do livre arbítrio, o motivo pelo qual Deus não nos força a aceitar Sua vontade, Seus e ensinamentos. Deus nos pede renúncia, não nos obriga a renunciar. “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: ‘Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, irá recobrá-la.” (Jo.15,24-25) Ou ainda: “Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos.” (Mc.10,43-45)

Este ano, que se inicia, em nossos relacionamentos, amemos desinteressadamente, sirvamos sem querer dominar, subjugar. O nosso amor ao próximo deve nos fazer servi-los; deixemos que o amor do próximo por nós o coloque a nosso serviço. Deixemos que o nosso amor a Deus nos coloque a serviço d’Ele. Ao longo deste ano, que iniciamos agora, coloquemo-nos à serviço de Deus e dos irmãos, e, deixemos que nos sirvam. Reconheçamos nossos irmãos de fé, no serviço que nos prestam, na comunidade; e, manifestemos nossa a eles gratidão. Vamos mostrar que somos irmãos, servindo ao próximo, na comunidade. Mostremos nosso amor a Deus, servindo-O.

Mas, ainda há um ponto a ser considerado: a despersonalização. Amar ao próximo desmedidamente, gastando-se totalmente, sem um norte orientador, é despersonalizar-se. Não me parece ser esta a vontade de Deus, porque não é assim que Ele lida conosco. Na passagem bíblica do jovem rico: “Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: ‘Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me’. Ele entristeceu-se com essas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens.” (Mc.10,21-22) Pontos para os quais devo chamar a sua atenção: Jesus só aceita os pobres materialmente ou quem muda-se para a pobreza material? A resposta é não. O jovem rico amava a sua riqueza material mais do que a Deus, não era desapegado, este é o motivo de não o chamar de volta. Jesus nos ensina que devemos amar a Deus sobre todas as coisas. Nicodemos era um dos principais entre os judeus e tinha posses, pois, dentre outras coisas, foi quem cedeu o túmulo para que o corpo de Jesus fosse sepultado e era um túmulo novo, onde não havia sido sepultado ninguém. Mateus, o publicano, disse a Jesus, em sua casa, que daria metade de seus bens aos pobres e ressarciria quatro vezes mais a quem tivesse defraudado. Não é dito que ele ficou pobre, mas revela que sua riqueza, a partir daquele momento, não era o que tinha de mais importante em sua vida. Outro ponto: a santificação é processual e não pontual, ou seja, a partir deste momento sou santo. Vamos nos santificando à medida em que caminhamos no discipulado de Jesus. Jesus, ao fixar o olhar no jovem rico, o amou porque percebeu que, de fato, ele observava todos os mandamentos desde pequeno. O jovem rico já tinha caminhado muito na santidade. Então Jesus diz ‘uma só coisa te falta’, só mais um passo é necessário, desapegar-se e seguir Jesus.

Mas, voltemos ao ponto que falta: a despersonalização. Amar a Deus e amar ao próximo, sem um norte orientador, é despersonalizar-se. O norte orientador é: “Jesus respondeu-lhe: ‘O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor; amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Outro mandamento maior do que estes não existe.” (Mc.12,29-31) Deus precisa estar acima de tudo em nossa vida; acima até de nós mesmos. O próximo deve ser amado como amamos a nós mesmos e não acima do amor que temos por nós mesmos. Jesus também disse: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os profetas.” (Mt.7,12) Também Deus age assim para conosco. Um exemplo é a própria passagem do jovem rico.
Como eu disse, no mês passado, o Natal é o parto de Jesus na realidade em que cada um de nós está inserido, num diálogo aberto, sincero, fiel, amoroso e cheio de temor entre nós e Deus, a exemplo de Jó. Um diálogo que ilumina a nossa vida, como Jesus iluminou a vida da samaritana, ao pé daquele poço de água.

Que você, neste ano que estamos iniciando, redirecione a sua vida, segundo o que eu disse neste artigo, e, caso ainda não faça parte, torne-se mais uma pessoa a serviço de Deus, em sua comunidade. Deus abençoe.

Pe. Aloísio Vieira
Pároco