Certa vez um homem procurou o padre de sua paróquia para conversar; dizendo que era religioso, mas que estava com dilema no coração. Em algum dia, no passado recente, havia ofendido membros de sua família, com palavras, e que isto não saía de seu coração, principalmente por causa da fé. Seu coração dizia que foi errado o que havia feito e que devia pedir perdão. No entanto, pedir perdão era difícil para ele, pois seria humilhante demais. Então, por um lado, ele não queria pedir perdão; mas, por outro, o seu coração não o deixava em paz. Disse ao padre que, por não querer pedir perdão, considerava a si mesmo como orgulhoso demais e que queria vencer isto, pois era um erro.
O padre, então, fez algumas considerações. Em primeiro lugar, disse que o tormento que seu coração estava causando era sinal claro de que ele tinha uma excelente conduta ética e uma fé pulsante. De fato, o cristão, a partir de seu coração, luta para não permanecer no pecado. É como um espinho na carne, que incomoda cada vez mais, até ser removido. Disse, então, ao homem que, quanto mais postergasse o pedido de perdão, mais incomodado se sentiria. O incômodo cresceria cada vez mais.
Por outro lado, continuou o padre, pedir perdão é reconhecer suas próprias limitações, sua incompletude, sua imperfeição. E, fazer isto, é como desnudar-se diante das pessoas, desarmar-se diante do próximo, baixar suas defesas, revelar-se fraco. É abrir os flancos ao ataque dos outros. Tornar-se menor diante dos semelhantes e isto a autoestima procuraria não deixar acontecer. É análogo à autopreservação. A autopreservação não pode ser confundida com orgulho, pois não é orgulho.
Orgulho, neste caso, manifesta-se quando a autopreservação vence a fé, vence o coração. E a pessoa aceita viver com o espinho incomodando, fazendo a ferida crescer, gangrenar e ir matando esta pessoa lenta e dolorosamente. Matando também a fé. E ela não cede para não se tornar menor em relação aos seus semelhantes e isto vai afastando-a de Deus. Não foi à toa que Jesus disse que quem O quisesse seguir deveria renunciar a si mesmo. Nem mesmo nós, para nós mesmos, devemos ser maiores do que Deus. Fazer, em nós mesmos, a fé vencer a autopreservação, a ‘martiria’, é renunciar a si mesmo.
No entanto, alertou o padre, isto não pode, de modo algum, fazer com que matemos, em nós mesmos, a autoestima; pois, isto significaria que não temos consciência de quem somos, nos despersonalizemos, baixando a autoestima a níveis pífios. A autoestima baixa é porta aberta para uma infinidade de patologias psicológicas.
Tendo dito isto, concluiu o padre a sua orientação àquele fiel, esta luta que você está enfrentando, dentro de você mesmo, é normal, é saudável; mas, a vitória da fé não pode significar a morte da autopreservação, da autoestima, mas um estímulo para que ela se adeque à fé. As duas não são inimigas, mas complementares. Este foi um dos fatores que fez, por exemplo, de São Paulo o grande Apóstolo que foi e é.
Pe. Aloísio Vieira