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Palavra do Padre
ALOISIO VIEIRA

MÊS DE junho de 2023
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Crente que se converte e crente que nasce num lar cristão

Qual a diferença entre o crente que se converteu pela Palavra e o crente que nasceu e cresceu em um lar cristão? Esta pergunta me foi feita por mim mesmo, quando assisti um vídeo na internet. No vídeo, a pessoa afirmava que, quando começou a estudar as Sagradas Escrituras, não era cristã e sim uma ateia devota e uma cética convicta. Ela não nasceu em um ambiente cristão, não cresceu num ambiente cristão, embora tivesse apreço elevado ao valor da evidência. Foi durante o processo de estudo que se converteu. Agora aquela pessoa era cristã, não porque esperava atender a alguma necessidade ou atingir algum objetivo; mas, porque Jesus, seu Evangelho e tudo que aconteceu com Ele eram uma verdade evidente.

Ela estudou os Evangelhos para ver se os relatos eram precisos e coerentes, apesar das diferenças que encontraria entre eles. Podemos afirmar que foi o seu apreço às evidências que moveu internamente esta pessoa. Ela foi provocada interiormente naquilo que tinha de mais precioso, diante dos Evangelhos. Então ela se debruçou no estudo dos Evangelhos e a Palavra de Deus agiu em seu coração, convertendo-a. É o que encontramos na Carta de São Paulo aos Romanos, capítulo 10, versículo 17: “Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo.”

É uma conversão racional e não emocional. Ela não sentiu calafrios, arrepios, compaixão pelo Cristo sofredor ou alguma coisa emocional. Ela não correu para Jesus por alguma necessidade de conforto, alívio, amparo emocional ou outra coisa. Geralmente, a conversão emocional exige que as necessidades emocionais da pessoa sejam sempre atendidas para que ela mantenha a fé. A conversão racional desinstala a pessoa, implica a pessoa.

Geralmente os meus artigos me vem por meio de fatos e relatos, que me provocam a dizer alguma coisa a respeito. Dizer alguma coisa que servirá de crescimento para meus leitores.

Aquela pessoa, por sua vez, estudou as Sagradas Escrituras de coração aberto, munida apenas de sua busca por evidências. Não estava com o coração armado, endurecido, como quem busca a verdade que já está em seu coração; isto é, querendo provar o que lhe convinha. Isto também nos ensina a Carta aos Hebreus, capítulo 3, versículo 15: “enquanto se nos diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como aconteceu no tempo da Revolta.”

Mas, o que dizer do crente que nasceu e cresceu em um lar cristão? A priori, a responsabilidade dos pais e dos padrinhos para com o batizado, os implica na tarefa diuturna e perene de educá-lo na fé, basicamente por meio da palavra e do exemplo de vida. Os torna mestres na fé de seus filhos e afilhados. Como eles estão implicando o batizado com a fé? Incutir práticas piedosas, costumes cristãos já absorvidos pela sociedade, garantir comodidades sociais, psicológicas, emocionais etc., não é provocá-lo, implicá-lo na fé. Mesmo porque, isto não o torna apto a entender por que tem fé. E o que dizer dos pais e dos padrinhos que não são estes ‘mestres na fé’?

Então chego à conclusão de que todos os batizados, nascidos ou não em lar cristão, precisam encontrar algo que os provoque na fé. A partir daí, desarmados o quanto possível, adentrem no estudo das Sagradas Escrituras, levados por esta provocação e iluminados pelo Espírito Santo. “conhecereis a verdade e a verdade vos livrará” (Jo.12,32).

Paralelamente aconselho a não ficarem apenas na fé emocional; pois, como disse antes, esta fé precisa, de tempos em tempos, de um novo impulso emocional para continuar existindo. A fé não pode viver de trancos emocionais para continuar andando, como um carro sem bateria. Por outro lado, a fé não pode existir baseada em unicamente em práticas piedosas e costumes cristãos socialmente aceitos. Estas duas maneiras não garantem a adultez na fé, não permitem o amadurecimento.

Aproveitando que citei São Paulo, vejamos o exemplo de dele. Ele se converteu no caminho para Damasco, diante do fato miraculoso da luz e da voz de Jesus que o interpelou: “Durante a viagem, estando já perto de Damas­co, subitamente o cercou uma luz resplandecente vinda do céu. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: ‘Saulo, Saulo, por que me persegues?’. Saulo disse: ‘Quem és, Senhor?’ Respondeu ele: ‘Eu sou Jesus, a quem tu persegues’.” (At.9,3-5). Mas, São Paulo não ficou nisto, ele fez uma catequese, que durou anos, até que ficou pronto para começar o seu ministério de pregador do Evangelho. Ele buscou e atingiu a adultez, amadureceu.

Procure crescer na fé, amadurecer em sua caminhada de fé. Adquirir razões para ser uma pessoa de fé. Responda a pergunta: Porque sou católico?

Pe. Aloísio Vieira