O Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, com passar dos anos, em nossa era, sofreu redução enorme tanto de sua essência, quanto de seu significado, em nosso entendimento atual. Em outras palavras, hoje, enxergamos apenas a ponta do Iceberg; isto é, entendemos apenas que um anjo, enviado pelo Pai, apareceu a uma virgem chamada Maria, que foi educada com esmero na fé, por seus pais (São Joaquim e Sant’Ana), e que esta disse sim ao que lhe foi proposto, qual seja, ser a mãe do Filho de Deus, que viria ao mundo para a redimir a humanidade, decaída pelo pecado original de Adão e Eva, o primeiro casal. “Sabe de nada inocente”. Um iceberg é uma grande pedra de gelo que se desprende de uma das calotas polares e vagueiam pelo oceano. Uma parte fica visível, para fora da água, e a outra fica submersa. Num copo de água, a pedra de gelo fica 8% para fora da água e 92% dentro da água; mas, no mar, como é salgado, 10% fica fora da água e 90% dentro da água. Se o que entendemos hoje sobre o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo é comparável como a ponta do iceberg, imagine o que escapa ao nosso entendimento atual!!
Para começar, devemos entender que, neste mundo, vivemos no tempo. Tudo, absolutamente tudo, tem início e fim. O casamento começa no dia em que nos casamos e termina com a morte de um ou dos dois cônjuges. A paternidade e a maternidade começam no dia em que o primeiro filho nasce e termina com a morte do último filho vivo ou com a morte do pai ou da mãe. A profissão da pessoa começa quando ela termina a sua formação ou treinamento para aquilo e termina com a sua aposentadoria ou morte. E assim por diante. Deus é atemporal, ou seja, fora do tempo, não tem início e nem fim: “Mas há uma coisa, caríssimos, de que não vos deveis esquecer: um dia diante do Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. (2Pd.3,8) São Pedro fala isto para nos dizer que Deus está acima ou fora do tempo, por isto, não há como Ele não cumprir ou esquecer de suas promessas e palavras.
Outra coisa é o ‘espaço’. Tudo neste mundo ocupa um espaço. Se você está deitado em sua cama, no quarto, você, naquele momento, não está na cozinha ou no banheiro ou na sala. Deus está fora do espaço, por isto, Ele está no quarto, na cozinha, no banheiro, na sala, no Japão, em Roma, na Inglaterra, nos Estados Unidos da América, no local do seu trabalho etc., ao mesmo tempo.
Quando Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu da Virgem Maria, Ele entrou no tempo e no espaço. Mas estes são apenas dois aspectos da maravilhosa entrada física de Deus neste mundo. Há muitas outras.
A encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo foi planejada, pelo Pai, desde Adão e Eva. A decisão já estava tomada. Deus não nos abandonou, quando o primeiro casal foi expulso do Paraíso, e a esperança e a salvação para a humanidade estava a caminho, no tempo e no espaço. Movidos pelo sopro divino, profetas foram erguidos para anunciar a chegada iminente de um Redentor. As profecias deles, entrelaçadas nas narrativas antigas, criaram, durante a história, um caminho que leva a Belém. Deus formou o povo de Israel e o abençoaria com o messias, pois Nosso Senhor Jesus Cristo nasceria no meio deles, e por este povo, abençoaria todas as nações. A estrela de Belém já fora anunciada por Balaão, o profeta, lá no livro dos Números (Nm.24,17), Isaías, o profeta poético, perscrutou o futuro para anunciar que uma virgem conceberia e daria à luz um Filho chamado Emanuel, Deus conosco (Is.7,14), Miquéias, o profeta camponês, naquela época, apontou Belém como o lugar do nascimento do Salvador (Mq.5,1). Foi desta maneira que cada palavra profética se entrelaçou, numa tapeçaria celestial, revelando à humanidade, de todos os tempos e espaços, que a esperança humana seria realidade nas lágrimas e no choro suave do recém-nascido, na realidade na manjedoura de Belém. “Num momento atemporal, o cenário celestial foi interrompido pela aparição de um mensageiro divino. Gabriel, o anjo, desceu do reino celeste com uma mensagem que transcenderia as fronteiras do tempo e da compreensão humana.” O anjo Gabriel “surge como um elo entre o divino e o humano, trazendo consigo a mensagem que ecoava nos corredores do céu.” Nazaré, cidade simples e discreta, é o lugar onde Maria, a jovem simples, humilde, obediente, virtuosa, receptiva, receberia a visita celestial. “O anúncio celestial revela o mistério profundo da presença divina que se tornaria carne, entrando na experiência humana para redimir e reconciliar.”
Maria responde com uma submissão total à vontade divina, um testemunho de confiança e entrega, tornando-se um exemplo eterno de aceitação piedosa. O anúncio do anjo nos convida a contemplar o mistério da encarnação e a responder, como Maria, com um “sim” confiante à vontade de Deus. Que este “sim” dela nos inspire submissão piedosa e confiança renovada na mensagem que continua a ecoar através dos séculos.
Para escrever este artigo, baseei-me, em parte, no livro: Nascendo com Jesus: Fazendo do Natal seu Ponto de Virada, 2023, 1ª Edição.
Pe. Aloísio Vieira