É natural que convivência exija a criação de um ambiente confortável para todos ou, pelo menos, para a maioria. Um ambiente acolhedor, atrativo, inclusivo, onde a pessoa se sinta em casa. Este ambiente confortável não é criado da noite para o dia, leva tempo; assim como leva tempo para que as pedras, que caem no leito do rio, percam suas pontas. No entanto, a convivência não pode despersonalizar a pessoa que neste ambiente queira entrar. A convivência deve ser estreita o bastante para que a pessoa se sinta em casa, mas também deve larga o bastante para a pessoa não se despersonalize. Outra coisa que é fundamental é que o ambiente, criado pela convivência, não tutele a pessoa, superprotegendo-a. Precisamos deste ambiente para evoluir, amadurecer; e, sendo um ambiente superprotetor, não seremos desafiados a amadurecer.
O que percebo, nos tempos atuais, é que o ambiente, criado pela convivência, é confortável demais, isto é, exagerado; pois é uma convivência que busca criar um ambiente onde não se toca nas feridas, nas deficiências, nas carências, nas lutas por travar ou os caminhos que ainda são necessários percorrer. Para justificar isto, depositamos na conta da inclusão. Dizemos a nós mesmos e aos outros que a pessoa deve ser aceita como ela é, sem pedir que enfrente suas feridas para curá-las; encare suas carências para supri-las; trave suas lutas para ser vitorioso; trilhe seus caminhos para chegar aos seus objetivos. O resultado disto são gerações fracas, preguiçosas e imaturas. Fracas porque uma poça d’água no caminho parece um oceano para quem não tem barco, a pessoa desiste sem mesmo tentar. Preguiçosas não porque não querem trabalhar, mas porque não querem enfrentar os necessários desafios. Imaturas porque é a enxada que dá calos nas mãos; isto é, são as lutas e as provações da vida que nos fazem amadurecer; quem não as enfrenta continua eterna criança. Desta forma, passamos a ideia de que a pessoa, que deste ambiente participa, deve se contentar com o que ela é no momento, que já está na linha de chegada, que já é vitoriosa.
É fato que a convivência exige a criação de um ambiente confortável, mas este ambiente não poder ser confortável demais, a ponto de não ser exigente com todos que dela participam, na medida que podem suportar e serem desafiados. Não é porque é meu filho que vou aceitar que ele seja maconheiro ou estuprador ou assassino ou pedófilo etc. Deus ama o pecador, mas não se compraz com o pecado; ao contrário, exige conversão. É desta forma que a convivência contribui com a evolução de cada um de seus membros, desafiando a evoluir.
Uma convivência que esconde as feridas de seus membros, que releve as deficiências dos seus, que faz vistas grossas às carências dos seus membros, que preserve das lutas e dos desafios da vida, é uma convivência que cria um ambiente fantasioso, fora da realidade. Cria um mundinho do qual a pessoa não poderá sair; caso saia, será derrotado aos cinco segundos do primeiro round. É mais ou menos aquela família que superprotege o filho ou filha, criando-a fora da realidade, num mundo de fadas; quando perdem os pais, são engolidos, pois serão obrigados a enfrentar a realidade da vida, sair do mundinho de fadas. Já viram aquele ou aquela jovem que fica pedindo dez, vinte e cinco, cinquenta, cem reais para os pais, pois não trabalham; que quando são desconsiderados em algum lugar, vão chorar (reclamar) no colo da mãe ou do pai; que em tudo vão consultar os pais, pois não sabem decidir por si mesmos; que entram fácil em depressão quando fracassam, mesmo nas pequenas coisas. Tal convivência cria uma dependência terrível, aprisiona as pessoas.
O pior é que, em nome do politicamente correto e da inclusão, ninguém pode falar nada, sob pena de ser taxado disto ou daquilo. Ninguém pode dizer ‘seu filho é um fraco, você precisa ensiná-lo a ser forte’ ou sua ‘filha é preguiçosa, você precisa ensiná-la a enfrentar a vida’ ou ‘você é imaturo, precisa crescer’. Assim como ninguém pode dizer que o cadeirante, o cego, a pessoa que falta um braço ou uma perna, o portador de síndrome de Down, o portador de Alzheimer (minha mãe sofreu com isto nos últimos anos de sua vida) etc. não são normais. O normal é andar, enxergar, ter todos os membros do corpo, não ter disfunção genética etc. Nos Evangelhos vemos isto, vários cegos, cochos, paralíticos etc. acorreram a Jesus para serem curados. É claro que nenhum destes que foram citados e outros, escolheram esta condição, mas a eles foi imposta. Não podem ser excluídos, marginalizados; mas, incluídos com condições dignas de vida, ofertas de oportunidades condizentes, assim como exigências compatíveis. Também não podem ser superprotegidos, colocados num mundo de fadas; mas desafiados a evoluir, superar suas condições na medida do possível.
Mas, dizer esta verdade custa caro a quem diz, pagam alto preço por isto. Pagam porque fazer isto não é politicamente correto, não está dentro do que alguns chamam de inclusão.
Não é saudável criar um ambiente onde, em nome da convivência, o que é indesejável seja varrido para debaixo do tapete, ignorado; onde, em nome do politicamente correto e de uma visão de inclusão, meias verdades sejam ditas.
Que Jesus esteja presente em sua vida, despertando você para a participação na comunidade, atuando em alguma pastoral, para o bem da comunidade e do Reino de Deus.
Pe. Aloísio.