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02/04 Deus faz brilhar a luz da ressurreição
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Que a luz desta noite bendita ilumine não só o exterior, mas o mais íntimo de cada um de nós.

Hoje, eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier,
Para enfeitar a noite do meu bem.
Hoje eu quero a paz de criança dormindo,
Quero o abandono de flores se abrindo,
Para enfeitar a noite do meu bem.
Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem.
Ah como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a ternura que eu quero lhe dar.
(canção “A noite do meu bem”. Dolores Duran e Antônio Maria)

Meditação de Santo Agostinho para o Sábado Santo (século IV)

Irmãos e irmãs queridos,

Nós recebemos um convite para vigiar nesta noite. Este convite nos vem do apostolo Paulo que escreveu aos coríntios que fazia vigílias freqüentes e pede que nós o imitemos. Com muito mais fervor, devemos estar vigilantes nesta noite. Esta noite é a noite da vigília que é a mãe de todas as celebrações da Igreja.

Nesta noite de lua cheia, nós e todo o universo fazemos vigília porque, por nossa forma de viver, nós éramos trevas, éramos noite. Hoje, somos luz no Senhor. Por isso, iniciamos esta Noite santa acendendo uma luz nova. Esta luz da fogueira e do círio é símbolo da luz da ressurreição pela qual poderemos resistir e impedir que as trevas da noite voltem de novo a nos invadir. Por isso, é importante encher de luzes esta noite e não deixar a luz do fogo se apagar. Que a luz desta noite bendita ilumine não só o exterior, mas o mais íntimo de cada um de nós. É nesta noite que Deus realiza conosco a profecia do salmo 139 que canta: “Mesmo as trevas não são trevas para ti. Esta noite é luminosa como o dia”.

Na madrugada desta noite, antes que o sol brilhasse no horizonte, nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou. Nesta noite, nasceu nossa ALEGRIA, ou melhor, renasceu do túmulo, porque do meio da escuridão brilhou a luz da ressurreição. A única tristeza que permanece é que nós e o mundo continuamos penando sob o peso de tantas dores, mas Jesus Cristo ressuscitou para nos trazer uma força nova. Alegremo-nos. Esta noite já pertence, de fato, ao dia do domingo porque a ressurreição de Jesus tornou esta noite mais luminosa que o dia mais claro. A ressurreição iluminou nossas escuridões. E nós expressamos esta iluminação pelo sacramento do batismo, sinal e instrumento de nossa ressurreição com Jesus.

É preciso que as chamas da fogueira aqueçam nossos corações e permitam que nossos espíritos vejam além de nossos olhos da carne. Consagremos esta noite que se acaba com o domingo por uma grande festa e proclamemos ao mundo que, mesmo no meio das dores e das trevas de todas as desordens, Deus faz brilhar a luz da ressurreição na qual somos batizados e pela qual somos chamados a viver com o Cristo, agora e sempre” (Sermão para o Sábado Santo)

Queridos irmãos e irmãs, (aqui começo eu a falar com vocês)

Não estamos mais na época da Cristandade de Santo Agostinho, nem pensamos mais o mundo inteiro como cristão. Olhamos em volta de nós e para muita gente, mesmo de nossa convivência, essa noite não diz nada. Não tem nenhum sentido especial. Não é somente Jesus que está na sepultura. É a própria possibilidade da fé. E o túmulo no qual Jesus hoje está contido e enterrado nem parece ser o mundo ateu. Infelizmente, as nossas próprias Igrejas que deveriam ser ensaios do reino de Deus na terra se transformam em túmulos fechados com uma pedra muito pesada que impedem as mulheres, mesmo as santas mulheres, de entrar no túmulo e cumprir o ministério profético e hoje episcopal da unção.

Quando as Igrejas se fecham em suas tradições e seus ministros se apresentam à humanidade antes de tudo por sua vaidade e seu gosto pelo poder sagrado, impedem a humanidade de crer verdadeiramente que Jesus ressuscitou e que um mundo novo pode começar.

Mas, o evangelho dessa noite de vigília pascal nos diz que, apesar da religião estabelecida (seja o Judaísmo, seja o Cristianismo, seja qualquer outra) ficar na lei e na ordem do poder que acabou levando as autoridades judaicas a se associar ao Império para condenar Jesus à morte, as mulheres que iam ao sepulcro de Jesus encontraram a pedra removida e o túmulo vazio. A pedra não foi removida por Jesus e nem por anjos para que Jesus se levantasse do sepulcro porque a ressurreição de Jesus não é apenas a revificação de um cadáver. É uma vida nova que o Pai lhe deu através do Espírito e nesse sentido o túmulo vazio apenas testemunha que a morte não é o lugar no qual possamos procurar Jesus. “Não procurem entre os mortos Aquele que está vivo”. Eu o encontro em vocês, na força do amor solidário e nos grupos sociais que lutam por um mundo novo.

Eu o encontro quando consigo transformar o jardim do sepulcro que está em mim e está no mundo em jardim do encontro amoroso e ressuscitador de vida, de esperança e de alegria. Aleluia. Desde tempos muito antigos, na celebração eucarística desse domingo, as Igrejas de tradição latina cantarão um refrão inspirado no salmo 139, o mesmo citado por Santo Agostinho no seu sermão da Vigília Pascal:
“Ressuscitei, Senhor,
contigo estou, Senhor.
Teu grande amor, Senhor,
de mim se recordou.
Tua mão se levantou, me libertou” (tradução de Reginaldo Veloso).
Desejo a você e a todos os seus uma feliz celebração pascal, com todas as energias do Espirito, seja a partir da tradição cristã, seja de outra tradição espiritual, sempre como caminho de amor e de vida nova.
Abraço do irmão.

Marcelo Barros
Fonte: CEBs