Padre Renato dos Santos, SDB – Cidade do Vaticano
Com muita frequência nos perguntamos sobre o sentido da nossa existência neste mundo. Os grandes pensadores, a começar por Aristóteles, fizeram e fazem esta pergunta essencial: “Por que existimos?” O por quê? nos remete, consequentemente, a um para que? Se formos coerentes, devemos nos perguntar, também: Para que existimos? Destas indagações, importantes e oportunas, nasceram reflexões belíssimas sobre o sentido do existir humano. Certamente, se Deus nos deu o dom de existir, devemos existir para alguma finalidade…
Todavia, numa dimensão cristã, não serão somente os nossos recursos culturais, adquiridos com anos de estudos, bebidos nas grandes universidades, que nos darão o entendimento maior do sentido e da finalidade da nossa existência neste mundo.
São Paulo, que na Carta aos Efésios nos diz que por revelação recebeu o conhecimento dos mistérios, afirma categoricamente que o Espírito Santo revela aos santos apóstolos e profetas o que antes não fora manifestado aos filhos dos homens. Paulo quer nos dizer que é possível, sim, com o auxílio do Espírito Santo, “compreender perfeitamente qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade” do o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejamos cheios de toda a plenitude de Deus! (Efésios 3,18-21)
Como consequência deste raciocínio, podemos até afirmar que só cresceremos na santidade se formos capazes de entender o amor de Cristo que age em nós pela ação do Espírito Santo. Este conhecimento, este aprendizado, certamente, não o obteremos nos bancos escolares.
Santo Agostinho, grande filósofo e teólogo, talvez ancorado na Carta aos Colossenses, tentando responder a estas indagações, diz que “tudo o que existe deve sua existência ao Deus criador”. (Cf. Santo Agostinho, De genesi contra Manichaeos, 1, 2, 4: PL 36, 175) Portanto, se recebemos o dom da vida, é para corresponder à vocação para a qual fomos chamados. Aqui, desponta como luz o grande chamado à santidade: “Sede santos, assim como vosso Pai celeste é santo”. (Mt 5,48). Santidade será, sem sombra de dúvidas, a medida alta do nosso existir.
Lemos na Exortação: “O desígnio do Pai é Cristo, e nós n’Ele. Em última análise, é Cristo que ama em nós, porque a santidade «mais não é do que a caridade plenamente vivida».Por conseguinte, «a medida da santidade é dada pela estatura que Cristo alcança em nós, desde quando, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida sobre a Sua». Assim, cada santo é uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo”. (GE 21)
É muito significativo entender que santidade não é um momento na vida de uma pessoa, mas, toda a vida da pessoa, ainda que tenha tido fraquezas, erros, quedas, decepções, momentos de deserto, etc. Isso deve nos encorajar ainda mais a não desanimar no caminho de santidade, que se constrói na totalidade da nossa existência. Jamais esquecer que santidade é construção. Deus, mesmo, fala através da vida de um(a) santo(a).
Sobre isso, diz-nos o Papa na Exortação: “Para identificar qual seja essa palavra que o Senhor quer dizer através dum santo, não convém deter-se nos detalhes, porque nisso também pode haver erros e quedas. Nem tudo o que um santo diz é plenamente fiel ao Evangelho, nem tudo o que faz é autêntico ou perfeito. O que devemos contemplar é o conjunto da sua vida, o seu caminho inteiro de santificação, aquela figura que reflete algo de Jesus Cristo e que sobressai quando se consegue compor o sentido da totalidade da sua pessoa”. (GE 22)
Portanto, não obstante todas as nossas debilidades humanas, não desanimemos da possibilidade de construir um bonito projeto de santidade. Toda a vida é missão, diz o Papa. E, Deus, continua sinalando coisas importantes para todos nós… Basta que O escutemos…
Afirma o Pontífice na Exortação: “Tenta fazê-lo, escutando a Deus na oração e identificando os sinais que Ele te dá. Pede sempre, ao Espírito Santo, o que espera Jesus de ti em cada momento da tua vida e em cada opção que tenhas de tomar, para discernir o lugar que isso ocupa na tua missão. E permite-Lhe plasmar em ti aquele mistério pessoal que possa refletir Jesus Cristo no mundo de hoje. (GE 23)
O mais sagrado na possibilidade de construir santidade é, decididamente, não voltar atrás.
Para refletir:
1. Somos agradecidos a Deus pelo dom da nossa existência?
2. Temos deixado espaço para Deus construir em nós o seu projeto de amor?
Na próxima semana continuaremos a reflexão sobre a Exortação Apostólica Gaudete et Exultate.