A tortura tem o poder maléfico de destruir vidas, sonhos, dignidade e esperança. A prática da tortura é uma maldade reservada para os desumanos amantes da barbárie, para os que destilam ódio. A tortura pertence aos que não amam a vida, pertence aos que, através da história, se tornaram inimigos do Cristo.
Seja física ou psicológica, a tortura no Brasil deixou suas marcas nos corpos e nas mentes de muita gente que lutou, e continua lutando, por justiça e pela reconstrução da frágil democracia brasileira. A história nos conta que muitos militantes corajosos não resistiram aos horrores desse período sombrio e morreram. Outros estão vivos para contar suas histórias.
Vejamos um pequeno trecho do depoimento de Amelinha Teles, vítima de Tortura pelo Coronel Ustra do Doi-Codi no período da ditadura militar inaugurada em 1964:
“Eu fui espancada por ele [Coronel Ustra] ainda no pátio do Doi-Codi. Ele me deu um safanão com as costas da mão, me jogando no chão, e gritando ‘sua terrorista’. E gritou de uma forma a chamar todos os demais agentes, também torturadores, a me agarrarem e me arrastarem para uma sala de tortura. “Ele levar meus filhos para uma sala, onde eu me encontrava na cadeira do dragão [instrumento de tortura utilizado na ditadura militar parecido com uma cadeira em que a pessoa era colocada sentada e tinha os pulsos amarrados e sofria choques em diversas com fios elétricos atados em diversas partes do corpo] , nua, vomitada, urinada, e ele leva meus filhos para dentro da sala? O que é isto? Para mim, foi a pior tortura que eu passei. Meus filhos tinham 5 e 4 anos. Foi a pior tortura que eu passei.”
Seja qual for o discurso que exalta torturadores, tal discurso classifica o indivíduo como inimigo declarado de Jesus Cristo. Isto porque Jesus foi vítima de uns dos piores métodos de tortura de sua época: a flagelação romana. Nesta forma de tortura, se chicoteavam os inimigos com brutal violência. Outra forma de tortura enfrentada por Jesus foi a crucificação, procedimento que cravava os pés e mãos na madeira, o que caracterizava uma forma de morte lenta e dolorosa.
Elogiar torturadores é torturar o Cristo novamente” É uma declaração desastrosa e desumana que caracteriza esses indivíduos como inimigos assassinos de Jesus, cooperadores de sua prisão, tortura e morte!
Os que hoje declaram abertamente o apoio ao candidato fascista, que tem como ídolo o coronel torturador Brilhante Ustra, negam o Cristo. Decidiram ficar do lado errado da história. Seguem pelo caminho mais sombrio de nossos dias, caminham de mãos dadas com o opressor.
Ao invés do amor, o ódio; ao invés da paz, a violência; ao invés da justiça, a opressão; ao invés da humanização, a barbárie entre o povo. O discurso fascista do candidato opressor encontrou terreno fértil em vários seguimentos religiosos do campo fundamentalista e neoconservador, campo que apoia a disseminação do ódio, da intolerância e do retorno da tortura. Como abutres famintos que rodeiam corpos, não estão preocupados com a matança dos índios, negros, camponeses, crianças, mulheres e LGBTQs. Querem mesmo é colaborar com o extermínio dos pobres, querem mesmo é a manutenção do poder e da glória para si.
Diante da conjuntura política e religiosa que vivemos hoje, o fascismo que estava escondido nos porões fétidos de nossa sociedade por décadas, agora revela-se de maneira brutal, marcada por horrores, violência e medo. O discurso de ódio do neofascismo, o apoio das elites brasileiras e de grande parte das lideranças religiosas demonstram a face obscura daqueles que sempre odiaram os pobres.
Contudo, segue a fé, a esperança e o amor! Segue a profecia, pois a utopia vive. Assim nos mostrou Jesus, que venceu a tortura e a morte. Em tempos de obscuridade, é preciso unir forças no poder e na direção do Espírito, na resistência e na luta pela vida, pela democracia, pela paz e pela justiça. Em tudo digo, vale a pena esperançar.
Texto de Marcos Aurélio dos Santos.
Fonte: Cebs do Brasil